terça-feira, 30 de novembro de 2010

Parque Nacional da Serra Azul

Durante minha passagem por Barra do Garças, foi tudo tão agitado que não tive muito tempo de escrever, nem de colocar fotos da cidade. Mas agora volto um pouco no tempo para contar o que fiz por lá, até porque é uma região com enorme potencial turístico e que pouca gente conhece ou pelo menos ouviu falar.

Dos lugares que visitei em Barra do Garças, o que gostei mais foi o Parque Estadual da Serra Azul. Localizado em uma montanha, contém um circuito de cachoeiras, um mirante, um Cristo Redentor, um discoporto e vários quilômetros de trilhas. É possível percorrê-las a pé, mas devido à falta de tempo, subi de carro com alguns amigos que fiz por lá.

Logo na entrada do parque, há uma guarita e uma placa, que nos fez dar gargalhadas:

Normas de uso do parque

Ficamos curiosos para saber como é que se pode "conversar com duendes" e "ver discos voadores" sem "bebidas alcoólicas ou tóxicos". Os duendes não quiseram mesmo saber de conversa, mas os discos voadores nós logo avistamos.

Discoporto de Barra do Garças

Nesse momento, o engraçado passou a me parecer ridículo. Nada contra os que dizem ter avistado ou feito contato com os discos voadores. Não duvido. Mas essas naves e esses ETs mal-feitos e horrorosos quebram o tom sério de qualquer ideia ou paisagem. Conversando aqui e ali, comecei a apurar as informações sobre o Discoporto. Ele foi criado pelo então vereador Valdon Varjão, que também se tornaria prefeito e senador, com o objetivo de incentivar o turismo na região e chamar a atenção para o avistamento de OVNIs. O projeto original envolvia a construção de uma pista de pouso para discos voadores, com cerca de cinco hectares, mas isso não foi concretizado. Dizem que a frequência de turistas e místicos no local é realmente alta, mas não há registros de que tenham sido avistados OVNIs por ali desde a inauguração do discoporto. Não culpo os alienígenas pela ingratidão: no lugar deles, eu me sentiria ofendida com uma homenagem tão horrorosa.

Vale a pena dizer que o Discoporto é também um marco do centro geodésico do Brasil, ou seja, o ponto equidistante dos limites oeste e leste (oceano Atlântico) do país. Falarei mais sobre centros geodésicos num post futuro.

A próxima parada foi no mirante do Cristo Redentor. Não sou católica nem estritamente cristã e, para ser muito sincera, acho estranho que a maior parte das imagens de Jesus o representem crucificado, morto, sofrendo pela ignorância humana. Para mim, seria muito melhor mostrá-lo alegre, transmitindo o Conhecimento e o Amor que inspiraram os próximos dois milênios. Sendo assim, os Cristos todos que povoam as cidades que visito não me interessam. O que me atrai são os mirantes, já que essas imagens costumam ficar em lugares bem altos.

Nesse de Barra do Garças, é possível chegar por uma escada com exatamente 1220 degraus. Mas nós não tínhamos muito tempo e subimos de carro. Foi então que entendi a localização dos limites de município e de estado. Olhando morro abaixo, era possível avistar Aragarças (GO), à esquerda do rio Araguaia; Pontal do Araguaia (MT), ao centro, nessa espécie de triângulo invertido que se formou entre os rios Garças e Araguaia. E à direita, Barra do Garças (MT).


Vista do Mirante do Cristo Redentor

Debaixo daquele sol quente, fiquei aliviada quando fomos para o circuito das cachoeiras. Estacionamos o carro no alto e fomos descendo, parando para tomar banho aqui e ali. Meus amigos me disseram que há cerca de doze quedas d'água. Tivemos que parar lá para a quinta ou sexta, pois eles tinham hora para voltar, mas foi o suficiente para admirar a beleza e a calma do local. E nesse meu primeiro dia de viagem, já pude sentir o contato com a natureza, que tanto desejei, eu que estava saturada da vida excessivamente paulistana e urbana. Os sons dos animais, dos pássaros, das águas. O ar fresco, leve. O equilíbrio dinâmico da Vida que se renova a cada instante. E a água batendo forte nos ombros, nas costas, na cabeça, levando embora tudo o que o corpo já estava cansado de carregar.


Cachoeira do Parque Nacional da Serra Azul

Voltamos para Barra do Garças, me despedi dos rapazes, que foram para a cidade onde moravam: Canarana. Combinamos de nos encontrar novamente quando eu passasse por lá, mais para o fim da semana. O final da tarde e a noite em Barra do Garças foram agitadíssimos, mas a única coisa que merece ser mencionada neste post foi a passagem pelo Parque das Águas Quentes.

Disseram-me que era um lugar imperdível: águas termais, naturalmente aquecidas. Cheguei lá à noitinha, mas fiquei decepcionada. Havia no ar um cheio de enxofre, compreensível, pois a água vulcânica deve ser sulfurosa. Mas ele se misturava a um odor de álcool, o que também era compreensível dada a enorme quantidade de latinhas de cerveja jogadas nas bordas das piscinas. Muita gente bêbada conversando e comendo dentro da água, formando uma meleca nojenta. Homens nojentos e bêbados me olhando fixamente, pois garota sozinha de biquíni é presa fácil, não é? Cerca de oito e meia da noite saí do parque e telefonei para um mototaxista ir me buscar. Essa foi a melhor parte do passeio noturno: voltar para a cidade de moto, com o vento batendo no rosto, a estrada toda escura proporcionando uma visão privilegiada das estrelas e da lua cheia. Apesar do ruído do motor, eu ouvia sons de grilos e pássaros e me sentia livre... Parecia mesmo que eu já estava viajando há uma semana, mas então me lembrei: este é só o primeiro dia! Dormi contente da vida.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A mendiga escritora

Mesmo miseráveis os poetas, os seus versos serão bons
Chico Buarque em: Choro Bandido

Cinco e meia da tarde, os saltos dos sapatos pretos, que eram meu figurino de pesquisadora séria, batiam compassadamente ao lado do braço inerte que jazia sobre a calçada: tloc, tloc, tloc... E meus olhos passavam varrendo seu corpo imundo, estendido entre a crosta de poeira e a nuvem de fumaça, enquanto sua cabeça, pesada demais para sustentar-se em cima de um pescoço tão frágil, apoiava-se numa almofada completamente coberta por um enxame de letras. Os olhos fechados combinavam com a boca aberta e eu imaginando se aquelas palavras penetravam nos seus sonhos por algum processo osmótico...

Eu passava por ela quase todos os dias no início de 2008, quando arranjei um emprego temporário perto da Avenida Paulista, com o objetivo claro de juntar uma grana para ir a congressos na Europa. Todos os dias eu descia uma alameda bem ao lado do MASP e acabava andando por uma esquina, cruzamento da Peixoto Gomide com a Barata Ribeiro. Era ali que vivia(?) a mendiga escritora, personagem que quase cheguei a conhecer.

Morava na rua, com muitas tralhas mal-acomodadas em caixas de papelão: travesseiro, revistas velhas, liquidificador, panelas, latas, trapos, mancebo, papelão, manta esfarrapada, pregadores de roupa, enfim, uma série de objetos que me pareciam aleatórios, mas deviam ter algum sentido para ela.

Sempre que vejo pessoas assim, singulares, acabo cantando por dentro:


Ninguém pergunta de onde essa gente vem
Chico Buarque em: Brejo da Cruz


Sempre tive curiosidade para conhecer os moradores de rua e essa, em especial, era ainda mais intrigante: ela escrevia.

No primeiro dia eu a vi escrevendo num saco de papel, desses de pão. No outro, era um caderninho. No outro, folhas avulsas. Sempre muito concentrada, acho que nem me notava passar, nem pescava meu olhar curioso querendo flertar com os manuscritos por uma brecha logo acima dos seus ombros. Sete horas da manhã, a mulher escrevendo embaixo de um guarda-chuva que improvisara de teto, encolhida e umedecida no seu minúsculo e ineficiente refúgio na tempestade. Ela escrevia sem parar em... uma almofada! Com caneta hidrocor. Ah, se ao menos eu pudesse furtar uma única folha com aqueles misteriosos garranchos!

No dia seguinte, cabeça ainda repousando na almofada, ela lia. Diminuí o ritmo dos meus passos apressados: lia o quê, gente do céu? "Murder in the Orient Express", Agatha Cristie. Será que lia? Será que compreendia? Falava inglês, a mendiga escritora? Afinal, mulher, de onde você vem?!

Cada vez mais interessada, fui tomando coragem para conversar com ela. Amanhã, pensava eu, amanhã eu falo. Mas onde é que fica a porta para ingressar nesse mundo tão distante do meu? Compartilhávamos um espaço: eu diariamente invadia a casa dela com o tloc tloc do salto do meu sapato. Mas esse espaço físico não se traduzia num espaço mental ou afetivo que proporcionasse o diálogo, ainda que por alguns momentos. 

Um dia a mulher usou um lençol para improvisar uma cortina no seu lar de paredes invisíveis, que não lhe dava nenhuma privacidade. Por uma frestinha, eu a vi escrevendo. Hoje eu falo com ela! Hoje eu falo! Que nada, faltava coragem. E a mulher escrevendo... num pufe! Sim, um pufe desses de sentar. Às sete horas da manhã já estava, digamos, com 40% de sua superfície preenchida por letras de caneta hidrocor. Às cinco e meia da tarde, já 100% coberto por palavras, funcionava como uma poltrona na provável sala de visitas que ela instalara na calçada.

Decidi conhecê-la amanhã sem falta de novo. E na saída do trabalho, cinco e meia da tarde, fui passando devagarzinho, o tloc tloc desacelerando, até que parei ao seu lado.

- Como é seu nome?

Silêncio. Ela não me via, nem me ouvia? Seus olhos vidrados numa folha de papel, que recebia as marcas imputadas por sua frenética caneta. Tentei de novo.

- Oi, tudo bem? Como você se chama?

Ela deu um pulo, uma espécie de espasmo, parece ter levado um baita susto, que repercutiu em mim: pulei também. Mas não desisti.

- Sempre passo aqui e vejo a senhora escrevendo. A senhora gosta muito de escrever, né?

Os olhos dela cruzaram com os meus e não entendi o que diziam. Muito azuis, quase cinzentos, pupilas estreitas, nenhum brilho, olhar tão opaco, quase se apagando. Parecia desconcertada, sem entender nada, talvez apavorada... E essa falta de sentido em seu rosto me apavorou também. Virei as costas e segui meu rumo, o ponto de ônibus. Mas no meio do caminho, percebi que não queria desistir. Bolei uma nova estratégia: passei na papelaria, comprei caderno, lápis, borracha e caneta. Pedi para embrulhar para presente.

No dia seguinte, seis e meia da manhã, eu já passava pela esquina dela. Cadê a mulher? Não estava lá. Suas coisas encostadas no muro, mais organizadas que o normal, encaixotadas, como se ela estivesse de mudança. Fui trabalhar. Na volta, apenas o vazio: nem mulher, nem caixas, nem objetos divertidos, nem palavras, nem letras, nem livros, nem revistas. Só poeira e lixo cobriam a calçada.

Mudou-se para outra esquina? Foi levada pela polícia? Pela assistência social? Morreu? Mistério. Nunca pude ler suas palavras, que todos os dias me intrigavam.

Hoje, trabalhando com moradores de rua na Prefeitura de Valinhos, sempre me lembro dela. Agora posso saber das histórias, saber de onde essa gente vem. Fico torcendo pela mendiga escritora, para que suas palavras não cessem, continuem brotando e preenchendo as almofadas, pufes, cadernos e sacos de pão, quem sabe num movimento capaz de preencher sua vida, talvez tão sem sentido quanto se mostrou o olhar que ela me dirigiu na única vez em que me dirigi a ela.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Primeiro encontro

Primeiro dia de viagem. Assim que desci do ônibus em que viajei de Goiânia a Barra do Garças, tudo o que eu queria era tomar banho, comer e dormir e eu não sabia qual dessas coisas faria primeiro. O estômago roncou mais alto e, após largar a mochila no primeiro hotel que encontrei, logo atrás da rodoviária, fui em busca de alimento. Havia uma avenida ali perto e imaginei que, caminhando por ela, eu encontraria alguma lanchonete, restaurante ou coisa do gênero. Muitas coisas remetiam a Goiás nos nomes de bares e hotéis e fiquei pensando se aqueles matogrossenses tinham complexo de goiano. Achei meio estranha a atmosfera sombria e mal iluminada da avenida, que parecia conter apenas botecos. Assim que encontrei um lugar que parecia não ter bêbados, parei para comer.

Olhando o menu na parede, logo atrás do balcão, sorri ao descobrir que um X-salada custava R$2,50 e um X-tudo R$4,00. Onde é que eu encontraria preços assim em São Paulo? Enquanto aguardava o lanche, resolvi perguntar como poderia ir ao centro da cidade.

- De que cidade?, perguntou a dona da lanchonete.
- Ué, desta cidade, de Barra do Garças, respondi eu.
- Aqui não é Barra, é Aragarças.
- ???
- Pra ir pro centro de Barra do Garças, você tem que seguir esta avenida, atravessar duas pontes, daí já vai ver o centro logo à frente. Se entrar na bifurcação à esquerda, vai para o centro de Pontal, que é outra cidade. À direita, tem o centro de Barra do Garças, que também é outra cidade. E aqui é Aragarças, que ainda fica no estado de Goiás. Pra lá da segunda ponte já é Mato Grosso. Mas Barra do Garças é longe, melhor você pegar um mototáxi.

Momento em que a cabeça pára para processar informações. Descoberta número 1: eu estava em Aragarças, não em Barra do Garças. Descoberta número 2: eu estava em Goiás, não no Mato Grosso. Descoberta número 3: aqui tem mototáxi, aquela coisa que tentaram regulamentar na periferia de São Paulo, mas o Kassab não deixou.

- Barra do Garças fica longe? Longe quanto, senhora?
- Ah, bem longe! Dá quase 15 minutos andando.

Ri por dentro. "Quase 15 minutos andando" é longe para eles. E eu acostumada a andar 25 minutos todos os dias para ir de casa até o trabalho, achando que era muito perto... Não, não seria necessário fazer minha estreia no mototáxi naquele momento.

Um homem se aproximou, acompanhado de um garotinho.

- Você não é daqui?
- Não.
- De onde você é?
- De São Paulo.
- Veio visitar parentes?
- Não.
- Tá sozinha?!
- Tô.
- Quantos anos você tem?
- 26.
- Mulher viajando sozinha?!
- É. Algum problema?
- Por que veio sozinha?
- Porque quis.
- Sua família SABE que você tá aqui? Você brigou com seus pais?
- Sabem sim, só vim passear, não briguei com ninguém não.

Interrogatório. O homem repetiu essas perguntas várias vezes, como que querendo encontrar alguma contradição no que eu dizia. Quando finalmente se convenceu, me ofereceu uma cerveja, que recusei. Mas foi o sinal de que eu poderia começar a entrevistá-lo, se quisesse.

- É seu filho?
- É sim, meu filho caçula, tem 5 anos.
- Que lindo! Você tem outros?
- Tenho 5 filhos, mas só esse e mais dois que moram comigo aqui. Os outros dois tão em São Paulo. Também sou de lá, morava na Zona Leste, mas não piso em São Paulo faz 20 anos. Minha primeira filha é mais velha que você, tá com mais de 30 anos.
- E por que saiu de São Paulo?
- Fui assaltado, levaram minha carteira, fiquei morrendo de medo de sair na rua. Decidi que não queria mais essa vida, daí vim pra cá, reconstruí tudo. Mas a família não quis vir.
- E por que escolheu esta região?
- Eu tinha um irmão que morava aqui. Vim trabalhar com ele.
- Acho que você nem sente falta de São Paulo né?
- De jeito nenhum, não piso mais lá! Da última vez que fui, faz 20 anos, fiquei na casa de um amigo. A janela do quarto onde eu dormia era no segundo andar e tinha grade. Deixei a janela aberta porque tava muito quente, e meu amigo brigou comigo, me chamou de louco, porque alguém podia botar um revólver pela janela e me fazer abrir a porta. Ah, eu não consigo ficar em lugar assim, me sinto preso!

A conversa foi se desenrolando enquanto eu comia meu sanduíche e tomava refrigerante. O garotinho pulando pra lá e pra cá, querendo atenção, quase estourou um saquinho de catchup na minha roupa. Enquanto isso, o pai ia se assanhando...

- Não quer mesmo uma cerveja? Pega aí, eu pago! Graças a Deus, dinheiro não é problema pra mim. Você não bebe? Se você quiser, te levo para conhecer uns lugares legais em Barra do Garças. Toma, pega meu cartão, tem meu telefone aqui. Tenho uma loja aqui em Aragarças e outra em Barra, acredita? Já sou dono de duas lojas aqui na região. Mas olha, não me liga amanhã, liga segunda, porque minha mulher é ciumenta. Tenho certeza que meu filho quando chegar em casa vai caguetar, vai dizer: mãe, a gente conheceu a Gabriela, e minha esposa vai ficar louca da vida. Mas me liga segunda, porque eu vou estar trabalhando, mas como sou empresário, posso sair quando quiser, daí a gente faz um churrasquinho perto de alguma cachoeira, que tal? Me liga, posso te levar pra passear de carro, vamos aproveitar! Até quando você fica aqui?

À medida que falava, os olhos dele iam se tornando cada vez mais famintos. Fui desconversando, terminei o sanduíche, paguei e estava saindo, quando ele disse:

- Então você me liga, né?
- Ligo, claro, ligo sim.

Pausa. Ele se fez sério.

- Você não vai ligar. Sei que não.

Tentei segurar um sorriso, mas não deu. Foi a primeira coisa que gostei de ouvir sair da boca dele. A primeira atitude imprevista, a primeira vez que ele deixava de ser um personagem plano para tornar-se esférico. Já em pé, pronta para partir no rumo que me disseram ser o de Barra do Garças, respondi:

- Adoro conversar com pessoas inteligentes!

E saí pela avenida, sem olhar para trás, apesar de curiosa para ver a reação que se estamparia no rosto dele. Já na ponte, abri a bolsa para pegar a máquina fotográfica e um vento soprou de algum lugar, levando o cartão com o contato dele, que estava no mesmo compartimento. Observando aquele pedaço de cartolina voando rio abaixo, o jeito foi rir de novo, rir de como a natureza parece entender minha vontade.

domingo, 21 de novembro de 2010

Cobija

O Acre faz fronteira com Bolívia e Peru e, por isso, viagens a esses destinos são bem comuns entre acreanos. Há muitos moradores do Acre que nunca foram para outro estado do Brasil, mas já estiveram na Bolívia várias vezes. Para passear? Não, normalmente é para fazer compras, aproveitando que o peso boliviano é desvalorizado em relação ao real.

Estando em Rio Branco, resolvi dar uma de acreana e ir para Cobija, não tanto pelas compras, mas para curar o trauma de Bolívia. Desde que saí de San Matias, eu não dormia direito, porque sonhava que estava na Bolívia, que havia manifestações, "bloqueos", "paros" e eu não conseguia passar, que as pessoas me tratavam mal, tentavam me passar a perna, enfim... aquele sentimento terrível das 24h em San Matias continuou intensamente presente nos meus sonhos.


Ponte Brasil-Bolívia


O bom é que a tia, o primo e até o amigo do primo toparam rapidinho ir para lá. Saímos de Rio Branco de carro, seguindo por uma estrada que, na maior parte do percurso, passa pela zona rural do estado, com suas gigantescas fazendas, que roubaram espaço da floresta amazônica para a plantação de cana e a criação de gado. Diferentemente das estradas do sudeste, com as quais estou acostumada, as estradas do Acre quase não têm curvas (chega a ser entediante). E também não têm serras e morros na beirada da estrada: é tudo planície, proporcionando um horizonte bem distante de se olhar.

A fronteira do Acre com a Bolívia é marcada por uma ponte, estaiada como parecem ser todas as que têm sido construídas na região ultimamente. E após atravessá-la, é interessante notar como a paisagem é quase a mesma.

Fronteira


Cobija tem cara de Brasil. O celular brasileiro pega muito bem, as pessoas falam pelo menos um pouco de português (e se não falam, pelo menos entendem), os preços são marcados em reais e há um clima amistoso. Tantas lojas de bugiganga que eu me sentia quase na 25 de março, em São Paulo.

Passei uma manhã gostosa: de carro e bem acompanhada, foi fácil... A melhor descrição dessa situação foi a que ouvi da prima, referindo-se à diferença entre Cobija e San Matias: "A Bolívia daqui é calminha, não é como a Bolívia de lá". Cobija tem cara de cidade, San Matias tem cara de faroeste. Nem parece que ambas estão na fronteira do mesmo país.

Fomos andando pelas lojas, tirando fotos, tomando cervejas diferentes das nossas (como Paceña e a mexicana Tecate), vendo collas venderem empanadas e sucos em carrinhos pelas ruas.

As bugigangas ficaram no Acre, aos cuidados da Tia Dé, que trará para São Paulo na semana que vem. E segui com a mochila mais leve, carregando um trauma a menos. Ufa! Depois disso deu para sonhar melhor.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A rota


Já em casa, após tomar banho, hibernar, telefonar para os pais, comer feijão com farinha de mandioca, resolvi traçar o trajeto pelo qual passei, só por curiosidade. O resultado foi o mapa abaixo.


Legenda
Trechos amarelos = rotas terrestres
Trechos vermelhos = rotas aéreas

Também por curiosidade, calculei a distância percorrida. As informações foram obtidas em diferentes sites, porque não achei nenhum que contivesse todas as cidades pelas quais passei. Vejam só:


Origem
Destino
Meio de transporte
Km
São Paulo
Goiânia
Avião
926
Goiânia
Barra do Garças
Ônibus
382
Barra do Garças
Vale dos Sonhos
Ônibus
62
Vale dos Sonhos
Nova Xavantina
Ônibus
88
Nova Xavantina
Canarana
Ônibus
163
Canarana
Cuiabá
Ônibus
819
Cuiabá
Cáceres
Ônibus
233
Cáceres
Corixa
Micro-ônibus
80
Corixa
San Matias
Táxi
7
San Matias
Corixa
Moto
7
Corixa
Cáceres
Micro-ônibus
80
Cáceres
Cuiabá
Ônibus
233
Cuiabá
Chapada dos Guimarães
Táxi
65
Chapada dos Guimarães
Cuiabá
Ônibus
65
Cuiabá
Porto Velho
Avião
1456
Porto Velho
Rio Branco
Avião
497
Rio Branco
Cobija
Carro
220
Cobija
Rio Branco
Carro
220
Rio Branco
Cuzco
Avião
384
Cuzco
Lima
Avião
567
Lima
São Paulo
Avião
3459
Total


10.013


Na verdade, a distância percorrida deve ser ainda maior, porque não considerei nesse cálculo alguns percursos, como por exemplo as tortuosas estradas d'el Valle Sagrado no Peru. Continuando a análise quantitativa do que vivi, eu diria que:

- Passei por cerca de 14 cidades, localizadas em três países (contando somente aquelas em que saí do meio de transporte onde eu estava, como por exemplo o ônibus e o avião, e caminhei pelas ruas ou campos ou ruínas).
- Dormi em 12 camas diferentes, além de ter passado uma noite no ônibus (trecho Canarana-Cuiabá) e outra numa cadeira acolchoada do aeroporto de Lima.
- Experimentei temperaturas que foram de 7 a 45 graus célsius.
- Andei a pé, de táxi, de carro, de moto, de mototáxi, de ônibus, de micro-ônibus, de avião, de trem, de... coisa bizarra sobre trilhos (ver episódio de Águas Calientes).
- Conheci cerca de 14 cachoeiras em quatro cidades ou distritos (6 em Barra do Garças, 1 em Vale dos Sonhos, 6 na Chapada dos Guimarães, 1 em Águas Calientes).
- Voltei com um caderno contendo 14 contatos de pessoas que conheci pelo caminho (hummm esse número 14 de novo).
- Até agora escrevi, contando com este, 29 posts para este blog relatando a viagem.
- Tirei 1.058 fotos (1+0+5+8=14, hum...), que ocupam cerca de 2,5 Gb de espaço no computador.

Todos esses números são curiosos, mas são apenas mais uma visão parcial do que vivi, senti e pensei. São experiências de vida que eu jamais teria se ficasse com medo de sair de casa, se ficasse esperando até alguém decidir ir comigo. Penso nos amigos que fiz e com os quais ainda mantenho contato virtual; nas pessoas que passaram por mim por apenas alguns instantes e disseram ou fizeram coisas que me marcaram; na singularidade de cada local, na diversidade; nas crises que, assim como os momentos prazerosos, me fizeram crescer e aprender mais sobre mim mesma e o mundo.

O post de ontem marcou o fim do trecho, a volta para casa, mas ainda há muito mais para contar. Assim, ainda pretendo postar aqui alguns outros relatos, imagens, diálogos, pensamentos e sonhos que apareceram pelo caminho. Em São Paulo, eu me sentia sozinha. Porém, durante três semanas viajando sozinha, nunca me senti solitária. Creio que isso aconteceu porque eu caminhava em minha própria companhia. E externamente, acabei atraindo pessoas incríveis que vivenciaram comigo alguns momentos importantes. Além disso, compartilhar as experiências através do blog, dos e-mails, SMSs e ligações telefônicas foi parte fundamental da viagem e agradeço a todos os que me acompanharam de alguma maneira.

Sendo assim, o relato não acaba neste post: podem esperar por outros. De agora em diante, não vou mais seguir a ordem cronológica e, provavelmente, as publicações serão mais espaçadas. Mas peguei gosto por essa coisa de escrever as experiências e continuo por aqui! Me aguardem!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O complicado retorno ao Brasil

Sei que este post está longo, mas prometo que será emocionante!

O taxista me deixou no aeroporto de Lima por volta das 21h e eu estava tranquila, pois o check-in já estava feito, a mochila já havia sido despachada e o voo só sairia às 22:55. Fiquei andando feliz e contente pelo aeroporto, já ansiosa por voltar ao Brasil. Chegaria em São Paulo às 5:30 da manhã, a tempo de votar no segundo turno das eleições presidenciais.

Cerca de 22h resolvi ir à sala de embarque. Foi então que descobri que para entrar nela, era preciso passar pelos caixas e pagar "la taja aeroportuária". Sim, assim como no Brasil, no Peru também existe taxa de embarque. Mas, ao contrário do Brasil, essa taxa é paga no momento do embarque, e não quando se compra a passagem. Eu já tinha pago uma taxa em Cuzco, que era de 18 soles. Por algum motivo, no alto de minha ignorância, achei que aquilo valesse para todo o percurso: Cuzco, Lima, São Paulo, já que em Lima eu estava apenas fazendo uma conexão. Mas foi muita burrice não ter perguntado antes: era preciso pagar outra taxa no aeroporto de Lima, e essa era de 90 soles ou 30 dólares. Eu tinha comigo 40 soles, 1 real e nenhum dólar. O pagamento poderia ser feito apenas em dinheiro, cartão de crédito não era aceito.


A principal paisagem da minha última noite no Peru


Ok, respirei fundo e fui ao caixa eletrônico sacar dinheiro (o Interbank tem conexão com a maior parte dos bancos do mundo, permitindo sacar diretamente da conta corrente). "Sua operação não pode ser realizada agora. Por favor, tente mais tarde". Querido caixa eletrônico, meu voo sai em menos de uma hora! Não tenho como tentar mais tarde! Pode colaborar? Tentei de novo. Mesma mensagem. Ok, esse caixa eletrônico está de mal, vou tentar em outro. Desci as escadas rolantes e, já meio assustada, tentei sacar dinheiro. Mesmo problema. Foi então que uma outra turista brasileira disse: "você também está com problemas no caixa eletrônico? Não consigo sacar.". Ok, não era um problema pessoal, era o "Sistema".

O Sistema é uma coisa que apareceu nas últimas décadas e está dominando o mundo. Ninguém sabe quem está por trás, só se sabe que quando ele não funciona, nada funciona, nem a cabeça das pessoas. Teoricamente há uma forma de resolver tudo sem Sistema, porque havia vida antes do computador. Mas o advento da tecnologia provocou um apagão mental nos seres humanos e agora tudo depende do Sistema.

Claro que fiquei absolutamente nervosa, mas não me permiti desesperar, nem desistir naquele momento. Mandei a criancinha medrosa que mora dentro de mim calar a boca e dormir, enquanto a parte de mim com algum senso prático tomava providências.

Primeira providência: entrei em contato com a central de informações ao turista, que me sugeriu ir à agência do Interbank. Chegando lá, disseram-me que não poderiam me ajudar, porque a Visa estava sem Sistema, portanto não havia conexão com nenhum banco através dos cartões Visa.

Segunda providência: fui para a praça de alimentação e fiz uma proposta para o primeiro restaurante que encontrei. Após explicar a situação, pedi para que passassem meu cartão de crédito (sim, o cartão de crédito funcionava) como se eu tivesse feito uma compra e me entregassem o valor em dinheiro. Sugeri passarem 70 soles e me entregarem apenas 50, para dar uma margem de lucro ao proprietário do restaurante. Pedido negado. Ok, 100 soles! Passem 100 soles e me entreguem apenas 50! Negado também. Percorri seis ou sete lojas fazendo a mesma proposta, mas ninguém aceitou. Ouvi a última chamada para o meu voo e vi que era hora de jogar a toalha: perdi. Não volto ao Brasil agora.

Voltei à central de informações ao turista e perguntei como poderia recuperar minha mochila, se é que ela não havia sido enviada ao Brasil. Disseram que a TACA checa se os passageiros embarcaram e, caso contrário, retiram a bagagem do compartimento de cargas. Porém, o escritório da Taca já estava fechado e eu teria que procurar algum funcionário. Posicionei-me estrategicamente na frente do desembarque (todos os passageiros e funcionários são obrigados a sair por lá) e abordei o primeiro ser que apareceu com crachá da Taca. Ele conversou com outro funcionário, encarregado pela bagagem, que disse que assim que encerrasse os procedimentos burocráticos do voo devolveria minha mochila. Aguardei ansiosamente em frente ao escritório fechado, até que, finalmente, recuperei minhas coisas. Alívio!

Toda vez que eu passava pelo saguão do aeroporto, taxistas me abordavam com a tradicional frase: "taxi, señorita!". De repente, perdi a paciência. Um jovenzinho de seus 19 anos aproximou-se e, antes que abrisse a boca, gritei: NO QUIERO TAXI! ENTIENDES? NO QUIERO! QUIERO UN VUELO. UN AVIÓN! TIENES UN AVIÓN? QUIERO IR AL BRASIL! Espero que o rapaz assustado perdoe a indelicadeza de uma brasileira sozinha, sem dinheiro, sem voo, sem hotel e sem juízo no aeroporto de Lima.

Central de informações ao turista novamente: pedi ajuda para remarcar minha passagem. A moça foi muito solícita, telefonou à Taca e me passou a ligação. O próximo voo para São Paulo sairia no dia seguinte, às 22:55. Tarde demais, muito tarde, mas pedi para remarcarem mesmo assim (já pensando em providenciar passagem por outra companhia aérea, mas querendo garantir o pouco que eu conseguia). Porém, após mais de meia hora no telefone, informaram-me que a Taca estava sem Sistema e que eu deveria ligar no dia seguinte, após as 8h da manhã.

Foi o fim. Eu tinha 40 soles, que mal davam para ir até a cidade (seriam cerca de 35 soles de taxi e naquela hora eu não me arriscava a pegar a tal da van até a Plaza Dos de Mayo). Também não daria para pagar hotel ali perto, pois todos estavam na faixa de 50 a 100 dólares para passar a noite. Eu não tinha voo definido, porque a Taca estava sem Sistema. Sem Sistema, sem voo, sem hotel, sem dinheiro, sozinha, eu me sentia desamparada pela primeira vez desde que botei o pé na estrada.

Cala a boca, criancinha medrosa que está gritando dentro do meu peito! Continuei tentando resolver o problema de forma fria e calculista. O maior desejo era voltar ao Brasil o mais rápido possível. Todos os guichês das companhias aéreas estavam fechados àquela hora, mas eu poderia tentar comprar passagem pela internet. Eu tinha laptop e a Star Bucks oferecia internet wi-fi de graça, mas eu não tinha mais limite no cartão internacional para comprar outra passagem. Precisava de ajuda. Feriado de Finados, papai estava numa chácara, mamãe estava em Belo Horizonte n'outra chácara: ambos provavelmente não teriam acesso à internet. Era cerca de meia noite em Lima, ou seja, 3h da manhã no Brasil. Comecei a elaborar uma lista mental de pessoas para as quais eu pudesse ligar. Os requisitos eram: 1. acesso à internet, 2. cartão internacional, 3. não me xingar muito se eu ligasse de madrugada. As duas primeiras pessoas com quem tentei entrar em contato não atenderam o telefone. Sentei no chão do aeroporto, embaixo do orelhão, com a moeda de 1 nuevo sol na mão, acabada, mal conseguindo pensar.

A terceira tentativa foi a Madrinha, que mora em Brasília (madrinha é mãe substituta, não é?). Quando o tio Alex (esposo da Madrinha) atendeu o telefone, a criancinha medrosa arrebentou a porta do quarto onde estava presa e chorou, desesperada: tio! É a Gabi! Tô ligando do Peru! Eu sei que são 3h da manhã. Tá tudo bem aqui, mas estou com problemas! Por favor, pede pra Madrinha entrar na internet que preciso falar com ela. Vai acabar a moeda... Pede pra madrinha entrar, fala que eu tô bem! [fim da moeda]

O coitado do tio Alex merece ir para o céu depois dessa! E a Madrinha também: prontamente levantou e foi para o computador. Eu estava tão nervosa que não conseguia nem pesquisar horários de voo junto com ela na internet. Só queria voltar o mais breve possível, não importava o preço. E a Madrinha foi ótima, porque conseguiu passagem para o dia seguinte, 11h da manhã, pela Tam. Só então pude respirar aliviada, sabendo que pelo menos teria como voltar (desde que os caixas eletrônicos voltassem a funcionar até o dia seguinte).

Despedi-me da Madrinha, comecei a desligar o computador e me deu dor de barriga. Guardei o notebook na mochila, suando frio, levantei da cadeira e senti aquela coisa molhada, quente e fedida descer por minhas pernas. Não, não me envergonho de contar: quem nunca teve caganeira que atire a primeira pedra! Fui andando de pernas abertas até o banheiro, agradecendo aos céus por ter conseguido minha mochila de volta, caso contrário eu teria que viajar daquele jeito e coitado de quem se sentasse ao meu lado no avião. Também agradeci à minha providencial iniciativa de sempre viajar com lenços umedecidos na bolsa, para o caso de não ter como tomar banho em algum lugar. Troquei a calça suja por uma saia comprida e estampada (era a coisa que estava mais na superfície na mochila), me senti uma GATA (borralheira) combinando-a com camiseta desenhada e tênis de fazer trilha. Não era hora de me preocupar com aparência. Saí para o saguão me sentindo fraca, meio tonta, com fome e com enjoo ao mesmo tempo.

Voltei à Star Bucks e encontrei companhia no MSN (agradeço ao Batata, Felipe Queiroz e João Pedro Ramos, que fazem serões internéticos). Já mais calma, desci para o térreo e me acomodei numa cadeira acolchoada, usando a toalha como travesseiro, cobrindo-me com um cobertorzinho boliviano nascido em Cobija, estendendo as pernas sobre o carrinho de carregar mala. Esse episódio mostra a importância da toalha para os mochileiros, tal qual havia sido descrito por Douglas Adams no Guia dos Mochileiros da Galáxia.


Duas coisas que um mochileiro das galáxias precisa sempre ter em vista: 1. toalha e 2. NÃO ENTRE EM PÂNICO!


Por volta das 3h da manhã no horário de Lima, fui ao banheiro outra vez, despejar mais comida peruana processada no vaso. Aproveitei para tentar sacar dinheiro novamente e... funcionou! Quando saíram da máquina os sofridos soles, quase chorei de alívio. Era o que faltava para confirmar minha volta para dali algumas horas...

No avião da Tam, eu me sentia fraca, muito fraca. Falta de comida (depois do desarranjo intestinal), somado ao empenho extremo de energia em manter a sanidade mental para resolver o problema. Cheguei exausta ao Brasil. Normalmente, quando chego ao aeroporto, ninguém está me esperando e dessa vez eu desejava muito que houvesse alguém. Pois havia o amigo Batata, que eu não via, talvez, desde os tempos de graduação na USP, e que gentilmente me deu carona no transporte VIP do aeroporto. E o Daniel, que me pegou no metrô e me levou até em casa de carro, encerrando de vez a saga.

Todo esse episódio foi muito longo, angustiante e exaustivo, mas me fez pensar em diversas coisas. O principal foi o quanto precisei e obtive ajuda nessa viagem, apesar de ter ido sozinha. Há diversas pessoas, algumas conhecidas e outras não, algumas que estavam fisicamente próximas, outras distantes, que me ajudaram muito e, graças a elas, consegui superar obstáculos. Isso é relevante para mim, porque sempre hesitei muito em pedir ajuda. Sou daquelas pessoas que se levantam para pegar o saleiro do outro lado da mesa, em vez de pedir para alguém que está mais perto me passar. E tive que vencer essa relutância a admitir fragilidade diversas vezes durante a viagem.

Sendo assim, agradeço imensamente a todos os que estiveram disponíveis para me auxiliar nos mais diversos momentos, seja com suporte físico, emocional, afetivo, intelectual... E agradecimentos especiais aos que me socorreram na maior crise da viajem, que foi a volta ao Brasil, seja providenciando as coisas de ordem prática ou me dando suporte emocional por internet ou telefone. Tentei listar os nomes, mas são tantos que tenho medo de esquecer de alguém. Então, fica aqui, a todos os que participaram de alguma maneira, o meu muitíssimo obrigada!