Fiquei muito feliz com os comentários que recebi nos posts anteriores. Eu ando com a auto-estima-literária baixa: sempre achando que meus textos não têm saído bons como antes, ou ao menos não tão bons quanto eu gostaria. Mas acho que ao menos não perdi a capacidade de perceber a poesia do cotidiano.
Estes últimos dias têm sido muito ocupados. Nove horas por dia na empresa, quatro no trânsito. Considero que viajo todos os dias, como na época em que eu ia e voltava da USP. O tempo passado dentro de veículos é o mesmo, e o cansaço é maior.
Quando eu ia e voltava da USP, pegava apenas um veículo: ônibus com ar condicionado, TV passando filmes, banco confortável. Agora, posso escolher entre várias opções:
1) Pegar o 775V-10 (bizarra a numeração de ônibus em São Paulo, que usa letras, números e outros números separados por tracinho ou barra), que vai direto daqui para lá, mas pega muito trânsito no caminho.
2) Pegar qualquer ônibus até o metrô da Paulista, e de lá dois metrôs (conexão na Ana Rosa da linha verde para a azul) até a estação Santa Cruz. Esse vai um pouquinho mais rápido, mas fica mais caro e tem conexões a fazer.
3) Andar a pé até a USP, pegar o circular até o portão de pedestres que sai na ponte, atravessar a ponte por cima do fedorento rio Pinheiros até a estação de trem Cidade Universitária, onde eu compro um bilhete fingindo que vou pegar o trem, passo a catraca, pego um bilhete do ORCA, passo a catraca de volta, pego uma fila de 20 min até conseguir um ORCA, levo mais 15 min de ORCA até a Vila Madalena, onde pego metrô até a estação Santa Cruz (novamente fazendo conexão na estação Ana Rosa). Ufa! Essa opção é bem cansativa. Valeria a pena se não fossem os 20 min de fila até conseguir um ORCA.
Bem, como todos os trajetos tentados até aqui deram quase que na mesma, tenho optado pelo primeiro, que pelo menos é um ônibus só - cansa menos. A partir da metade do percurso, mais ou menos, eu até consigo sentar, e vou lendo pelo caminho. Às vezes, vou lendo de pé, mesmo: uma mão no ferrinho para não cair, outra segurando o livro. Desse jeito, já li "Admirável Mundo Novo", "Sonhos de uma Noite de Verão", e agora estou lendo "Incidente em Antares". Acabo de arranjar forma de colocar em dia a Literatura!
Outra coisa muito divertida a se fazer no percurso é observar as pessoas. O metrô e o ônibus são excelentes campos de observação para humanólogos (os USPianos que estudam macacos têm se auto-intitulado "macacólogos", acredito que por influência do renomado macacólogo Luiz Biondi, que foi o primeiro que eu vi usar esse termo. Portanto, acabo de criar o neologismo "humanólogo" para os que estudam seres humanos). Tem gente de todos os tipos: crianças, jovens, velhos, pobres, remediados, às vezes até umas pessoas que parecem ricas, intelectuais, inguinorantes, etc. As discussões passeiam por diferentes assuntos, como família, comida, sexo, política, futebol, trabalho, drogas, etc. Qualquer dia farei um (ou vários) post(s) sobre as pessoas que vi no ônibus, e as conversas e fatos que presenciei - certamente dão ótimas crônicas.
Bem, este post não foi poético, nem muito engraçado, talvez nem mesmo interessante, mas eu precisava desabafar! São Paulo é fogo! Odeio ter que ir para onde todo mundo quer ir, ao mesmo tempo que todo mundo quer ir. Mas a vida é assim mesmo, e resta tentar encontrar diversão na Literatura escrita e nos acontecimentos do cotidiano, que são Literatura ao vivo, com potencial para tornarem-se Literatura escrita.
No Caminho de Volta
Há 7 anos