quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Duas pequenas colisões e um grande contraste de Caráter

Valinhos, 28 de dezembro de 2010. Tocou o telefone do CREAS, era meu irmão: "Gabi, estou ligando para avisar que o vô faleceu hoje cedo". Resolvi ir à casa de minha avó, abraçá-la e ficar com a família. Alguém ainda me perguntou: "Você está bem para dirigir? Quer que alguém te leve?". Ainda não consegui melhorar o radar para avaliar a dimensão dos meus sentimentos em situações extremas. Acreditei que estava bem e dispensei o auxílio. Quando dei ré no carro, para sair do estacionamento, ouvi um barulho de colisão: bati num carro estacionado atrás do meu, que eu simplesmente não tinha visto.
 

Ainda meio passada, pedi para chamarem a dona do veículo, que estava sendo atendida no Plantão Social. Quando ela viu o próprio carro naquela situação, desesperou-se, gritou, quase chorou, dizendo que havia comprado o veículo há menos de um mês. Procurei acalmá-la e garanti que eu pagaria o prejuízo. Pedi para ela tirar o carro dali, pois na posição em que estavam, se eu tirasse o meu primeiro, o estrago seria maior. Foi então que constatei que os danos haviam sido pequenos, principalmente para ela: apenas uma pequena rachadura no parachoque. Reforcei que pagaria o prejuízo e a moça sorriu: "Ah, não, isso já estava assim quando comprei!". Fiquei sinceramente feliz por perceber a honestidade da moça, e ela por descobrir que nada havia acontecido ao seu carro recém-comprado. Inesperadamente, abraçou-me e pediu desculpas, ao mesmo tempo em que eu me desculpava novamente. Alguns colegas de trabalho lhe disseram que eu estava meio nervosa pelo falecimento de meu avô e ela, compreensivamente, falou: "sei bem como é, perdi meu pai há menos de um mês".

Mas nem sempre topamos com pessoas honestas por aí. Hoje voltei de Valinhos para Campinas, bem devagar, devido à chuva. Quando cheguei no final da Rodovia Magalhães Teixeira, naquele ponto em que a pista se estreita para pegar a D. Pedro I, havia um pequeno congestionamento, que me obrigou a parar o carro. Percebi o perigo da situação e liguei o pisca alerta. Atrás de mim, vinha um carro desses bem chiques e poderosos, que estava distante e certamente teria tempo de parar, mas em vez disso acelerou. Vi pelo retrovisor quando deu uma guinada brusca para a esquerda, tentando desviar, e senti um impulso forte quando a frente do carro dele pegou, de lado, a traseira do meu. Uma peça voou longe, felizmente era do carro dele. Em seguida, simplesmente acelerou, correndo pelas faixas brancas que indicavam o estreitamento de pista e fugiu. Anotei a placa e vim muito nervosa para a casa da minha mãe, com as pernas tremendo e a boca seca.

Chegando aqui, eu estava realmente muito nervosa, ou, para usar uma expressão melhor, puta da vida. O prejuízo material certamente foi pequeno: um leve amassado, uns arranhões na pintura. O que me revoltou foi a falta de consideração do motorista, que fugiu sem dar nenhuma satisfação. Decidi registrar boletim de ocorrência e fazê-lo pagar, não por precisar do dinheiro, mas para que pelo menos assumisse a responsabilidade pelos seus atos.

Entrei na internet e encontrei uma informação interessante:
Saiba onde fazer o boletim de ocorrência on line em caso de acidentes de trânsito. De acordo com essa notícia da Uol, no estado de São Paulo, é possível fazer o BO no site da Polícia Militar, em caso de acidente de trânsito sem vítima. Entrei lá. Se alguém entender como funciona essa droga, me avisa. O formulário pede o número do boletim, que obviamente não tenho, entendo que deveria ser gerado pelo próprio sistema. Não tem campos para eu preencher os dados do outro veículo, nem para descrever como foi o acidente. E também não achei nenhuma página de Ajuda.

Decidi ir pessoalmente fazer o BO, mas quando telefonei na PM para perguntar aonde deveria ir, descobri que o posto de atendimento fica a 14 Km de minha casa. Decidi averiguar se valeria a pena sair daqui com chuva para fazer isso. Então percebi, por diversos sites e fóruns, que não basta ter a placa do carro: preciso também provar que foi esse veículo que colidiu com o meu. No meu caso, não há testemunhas. Então imaginei que eu poderia usar as imagens das Câmeras nas rodovias do Corredor D. Pedro para essa finalidade. Telefonei na Rota das Bandeiras para checar e fui informada de que eles só poderiam ceder as imagens mediante ordem judicial, e isso caso a colisão tenha sido realmente filmada, pois nem todos os trechos da estrada são monitorados.

Resumindo, o procedimento envolveria: 1. Fazer boletim de ocorrência do outro lado da cidade; 2. Abrir processo no Pequenas Causas, pagando advogado; 3. Torcer para que a Justiça tivesse a competência de pedir as imagens para a Rota das Bandeiras, bem como para que as imagens estivessem disponíveis; 4. Comparecer às audiências, encarar os diversos trâmites, para ver se o proprietário do veículo resolve pagar o prejuízo e/ou se o juiz considera que ele deve pagar, porque quando o proprietário não tem muito dinheiro, o juiz meio que deixa para lá. Claro que esse processo todo levaria alguns anos, muita energia e dinheiro.

Resultado: já estou pensando como as diversas pessoas do Fórum que encontrei via Google, que sugerem que a solução para batidas pequenas em que o responsável foge é pagar do próprio bolso o prejuízo e ficar quieto, ou quem sabe descobrir o endereço do cara e enchê-lo de porrada. Sim, porque o sistema judiciário favoresce o comportamento de bater e depois fugir sem pagar e pune o comportamento do cidadão que exige seus direitos.

Espero que um dia mais pessoas tenham o Caráter da usuária do CREAS, a honestidade de assumir o que é sua responsabilidade e o que é a do outro, para que as coisas possam ser resolvidas na base do abraço e da compreensão... Ah, e dizem por aí que essa mulher é doida! Fico feliz de ser doida como ela...

Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...

Ser doida assim é fundamental! rs que coisa complicada é tentar usufruir dos nossos direitos, Não?
beijos