sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Rio do Ouro

No dia seguinte, fomos para outra trilha, a do Rio do Ouro. Saindo da fazenda e pegando a BR 158, seguimos por uma estradinha de terra na vila de Vale dos Sonhos, passamos do lado do cemitério e seguimos adiante. Subimos a montanha, continuamos rodando por mais uns bons quilômetros, até chegarmos a uma fazenda onde compramos mussarela fresca e comemos muitas amoras.

Amora, para mim, lembra muito a Escola Cooperativa Curumim, onde estudei dos quatro aos sete anos de idade. Era uma chácara, as salas de aula eram chalés, tinha um pomar e uma amoreira belíssima. Eu e meus amigos gostávamos de subir na amoreira durante o recreio, ficávamos com a boca e os dedos roxos, sem contar as roupas.

Esse lugar em que paramos era a sede da fazenda onde fica o Rio do Ouro. Obtivemos permissão para prosseguir e continuamos andando de carro, agora pelo meio dos pastos, e até por cima de rochas. Por fim, chegamos a um lugar onde Maurinho disse que poderíamos estacionar e seguir a trilha a pé.

Logo vimos a nascente. Fomos descendo por trilhas e pedras, até chegarmos em um dos locais mais impressionantes que já conheci. As fotos não mostram muito bem o panorama, então fiz um vídeo (muito amador, é claro), que anexo a seguir.


O solo parece lunar, de tantas crateras. Na verdade, creio que as rochas são magmáticas de formação relativamente recente, e os geógrafos e geólogos (Samuel?!) me corrijam se eu estiver errada. A cachoeira corre pela fenda entre as pedras, caindo num abismo e continuando, lá embaixo, o rio. Mais à frente, a água forma uma represa natural, um lago calmo e de água transparente. Mesmo nas regiões mais profundas, é possível enxergar a terra por baixo da água. No outro lado do lago, uma pequena praia de areia.

A água é simplesmente deliciosa. O lago é bastante profundo em alguns pontos, não consigo imaginar o quanto, mas acho que caberiam duas ou três de mim empilhadas e submersas. Maurinho nos conduziu pela fenda, o local por onde corre a água que cai das cachoeiras. Claro que nesse ponto, não era possível levar a máquina fotográfica, a menos que eu tivesse capa a prova d'água. Uma pena.

Lago visto de cima

Fomos adentrando pelo meio das rochas, ora nadando, ora subindo pelas pedras. Em alguns pontos, encontramos lindos peixinhos. Em outros, aranhas gigantescas subiam pelo paredão de pedra. Não costumo ter medo de aranhas, mas fiquei bastante atenta para não encostar acidentalmente em nenhuma delas.

Outras pessoas do grupo estavam conosco, inclusive uma das senhoras. Achei bastante interessante quando ela perguntou: "mas espera aí, isso não é o trabalho?". Maurinho respondeu: "isso também é o trabalho!". Mas ela se referia às orações, que seriam feitas na parte rasa do lago. E acabou retornando para lá, pouco depois. Achei engraçada a pergunta, porque do meu ponto de vista, tudo é "o trabalho". O que está fora é como o que está dentro, e entrar em trilhas desconhecidas me coloca em contato com o meu Eu, tanto quanto orar. Mas orar me põe em contato com algo conhecido, enquanto entrar em fendas de pedra por onde correm águas de cachoeiras me põe em contato com o desconhecido. Bem, por isso mesmo é que dá medo, certo? Não importa, o gosto da aventura e da descoberta superaram qualquer receio que eu pudesse estar sentindo.

Em um ponto bem adiante, Maurinho nos mostrou que a pedra formava uma caverna. Havia uma janelinha, por onde ele entrou. Eu era a próxima da fila, mas cavernas são meu ponto fraco. Percebi que a altura era tal que Maurinho conseguia ficar em pé, e ainda sobrava um vão entre a cabeça dele e o teto rochoso. Percebi que era bem arejada. Mas não me senti pronta para enfrentar os sentimentos claustrofóbicos, principalmente considerando que depois que as outras pessoas entrassem, eu não iria conseguir sair rapidamente, se precisasse. Fiquei na janela, olhando meus amigos, que destemidamente curtiam a nova descoberta. Interessante que na parte de baixo da caverna, havia um buraco submerso na água. Entrar por ali é praticamente impossível, por causa da correnteza, mas as pessoas saíram por lá, dando um pequeno mergulho, e imagino que essa sensação deve ter sido maravilhosa.

Voltamos para o lago, quase que sem esforço, porque a correnteza ia nos empurrando de volta. Os colegas que não sabiam nadar ou que por outro motivo não quiseram entrar na fenda nos aguardavam para o trabalho à moda deles. De mãos dadas, oramos, cantamos mantras e sentimos o contato com a água, com o sol, com a natureza. Legal também sentir o contato com o grupo, com as pessoas que estavam lá e que nos acolheram, sem preconceitos, em seu trabalho.

Lago visto de baixo

Ainda seria possível descer ao longo do rio, mas ninguém tinha lembrado de levar comida e todos estavam com fome. O grupo decidiu voltar. Porém, quando subimos, Maurinho percebeu que faltavam algumas pessoas, que eram de outro grupo, também estavam conosco e haviam descido a trilha. Foi buscá-los e ficamos esperando lá em cima.

Sentei para ver a cachoeira e decidi meditar. Fiquei olhando para as águas, fui me tornando muito calma, tranquila, serena. Algumas imagens apareceram nos meus olhos, que a essa altura já estavam fechados. A luz do sol nas pálpebras formavam mandalas. Depois, vi algumas serpentes, ou seriam larvas? Esverdeadas, me lembravam um sonho que tive meses atrás... E uma voz me disse que o problema da ferida que tenho no pé seria "o apego à doença. Desapegue-se... deixe ela ir... como as águas, como a cachoeira, deixe fluir...".

Retornamos à fazenda, compartilhamos novamente de uma boa refeição vegetariana, no meio dos gafanhotos e besouros, que surgiam em grandes nuvens. Estávamos bastante cansados, mas também alegres, serenos. Senti que se ainda havia em mim algum traço da habitual ansiedade, ele dormiu naquele dia e só acordou vários dias depois. E findou o segundo dia aos pés do Roncador.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pássaro passageiro


Um pássaro passageiro,
um passo no espaço,
passeando,
eu peço.
Um ponto, um compasso,
eu passo.
Estou de passagem,
eu peco.
Meu pé descalço,
bagaço.
Muita bagagem,
bobagem.

Uma parte está lá,
estou partida.
Jogar outra partida?
Eu passo.
Estou de partida.
Cada encontro com outra parte
é um parto.
Por isso parto.
Busco um porto,
é perto?
Faz parte.

É fogo,
não dá folga
meu pé no fogão.
Precisa afago,
fogueira fagueira,
figueira, figa, fuga,
fé.

Medito no ardor,
conforto na dor.
Leite de pedra,
a unha da fera
raspando o pé
da montanha ferida.
Estou de férias.

O fogo que arde
neste fim de tarde
transmuta a Dor em Liberdade.

(É um parto.)

Um pássaro passageiro
comprou passagem,
um passo no espaço,
neste compasso
eu passo.
Estou de passagem...

Amén!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As primeiras lições do Portal do Roncador

No dia seguinte à nossa chegada a Barra do Garças, fomos ao Parque Nacional da Serra Azul, onde já estive em 2010. Lugar lindo, seja pela vista do alto da serra, ao lado do Cristo Redentor, ou pelas trilhas e cachoeiras. O tempo estava meio nublado, nem levamos a máquina fotográfica para a trilha, com medo de chover. Mas mesmo sem sol, o rio não estava gelado e pudemos curtir umas quedas d'água nas costas.

Na volta, custamos a achar um restaurante aberto. Tentamos novamente compreender o fuso horário, que é bem confuso (ver post explicando os horários na região do Roncador), e conseguimos concluir que era preciso atrasar o relógio em uma hora, pelo menos na maior parte das situações. Também concluímos que talvez os restaurantes fechem para o almoço. Visitamos um amigo à noite e decidimos, por fim, seguir para o pé da Serra do Roncador.

As formações rochosas características do início da Serra do Roncador

Nesse lugar muito especial há o Portal do Roncador, onde o Maurinho recebe viajantes de todos os cantos. Esse é um local que recomendo para algumas poucas pessoas. Penso que, para ir para lá, é fundamental preencher alguns requisitos. O principal é gostar de mato. Mas também é preciso que a pessoa não entre em pânico facilmente; não se importe com luxos como ventilador, ar condicionado, chuveiro quente, arrumadeira, camareira, copeira...; não se desespere com a presença dos insetos, mesmo que sejam muitos; não seja ansiosa a ponto de querer antecipar as situações que irá enfrentar, porque é preciso viver os momentos; não se importe com os longos silêncios, nem com o rebuliço das maritacas e com a sinfonia ininterrupta dos grilos e sapos durante a madrugada; não faça questão de bebidas alcoólicas quando sai para viajar, porque isso não é permitido no local; não tenha medo da profunda escuridão da noite... enfim, é preciso que a pessoa vá com vontade de permanecer alguns dias consigo mesma, do jeito que é, sem máscaras ou muletas.

Se você acredita que se encaixa nos requisitos, é muito fácil de achar o local. Basta seguir pela BR 158, no trecho entre Barra do Garças e Nova Xavantina. Passando o povoado de Vale dos Sonhos, a fazenda fica poucos quilômetros a frente, bem embaixo das formações rochosas inconfundíveis da figura acima.

Lá chegando, encontramos pessoas ligadas a um grupo esotérico, que estavam em retiro. Engraçado que faz cerca de um ano que encontramos pessoas desse grupo em vários locais. No final da tarde fizemos com eles um "trabalho", coisa que para eles parece que significa orar e para mim, significa caminhar pela trilha e entrar em contato comigo mesma, através da natureza.

A nossa casa

O grupo era bastante diversificado. Tinha homens, mulheres, pessoas mais jovens, mais idosas e até um incrível garoto. De forma geral, as pessoas caminhavam tranquilas. Mas a senhora J. parecia apavorada com o desafio, e não conseguia dar um passo sequer sem ser praticamente arrastada pelo guia ou por outra pessoa do grupo. Logo percebi que o que a impedia de prosseguir não era uma dificuldade física, porque bastava lhe dar a mão para que caminhasse sem problemas. A questão era a falta de confiança, o medo de ingressar na trilha, o pavor que sentia ao dar cada passo para o meio do mato e da montanha.

Outra característica inesquecível da senhora J. era o medo dos gafanhotos. Esses animais apareciam em nuvens pela fazenda, e batiam em nós o tempo todo: nas pernas, braços, rosto, olhos... com tanta força que compreendemos de onde tiraram a modalidade de kung fu louva-a-deus! Fora serem os bichos mais chatos que encontrei por lá, superando até mesmo os infelizes pernilongos, eles não mordiam e nem machucavam ninguém. Mas a senhora J. perdia a cabeça quando se aproximavam, dando engraçados gritinhos de "mamãe! mamãe!".

Claro que os gritinhos, as constantes paradas para descansar e as frequentes perguntas de "já estamos chegando? Falta muito?" incomodavam um pouco. Mas percebi em mim um pouco de admiração pela senhora J. Ela era a que mais estava se enfrentando naquele momento. Apesar de todos os medos e da idade avançada, se dispôs a entrar na trilha para fazer um trabalho. Acho que ela não sabe que o trabalho maior foi ter se enfrentado.

Eis que, no meio do caminho, nos deparamos com uma belíssima cascavel! Grande, rajada, vagarosamente deslizando por uma rocha. O guia Maurinho, que ia na frente, imediatamente nos pediu para parar. De longe, fiquei admirando a belíssima serpente, que parecia nem ter notado nossa presença. A essas alturas, se eu estivesse sozinha, certamente daria meia volta e iria embora para a fazenda, antes que ela resolvesse sentir o meu cheiro na ponta daquela língua flamejante. Mas Maurinho se aproximou, junto ao maravilhoso garoto, e tiraram fotos bem de perto. De longe, também aproveitei para tirar fotos, aproveitando o zoom da câmera. Em seguida, Maurinho fez algo que, do meu ponto de vista, é ainda mais espantoso: mantendo uma certa distância, atirou alguns pedaços de pau e pedras, com um certo cuidado para não machucá-la ou matá-la. Afinal, nós é que entramos na casa dela, e não ela na nossa, certo? Ele apenas derrubou a cobra da rocha, para o outro lado, e ainda olhou para ela com cara de deboche. Em seguida, mandou que passássemos pela trilha. Me borrando de medo, passei correndo e sem olhar para trás, nem para os lados.

A cascavel

Prosseguimos na trilha e passamos pela pedra popularmente chamada de "dedo de Deus". De perto, ela me pareceu um enorme obelisco, como se tivesse sido fabricada por mãos humanas. Lembra muito as construções em pedra feitas pelos incas, no Peru. Mas não paramos por lá, subimos mais um pouco, até uma pequena caverna.

Lidar com uma cobra, para mim, é coisa pequena perto de uma caverna. Tenho claustrofobia e quando chego em um lugar fechado, começo logo a pensar em um monte de bobagens: as paredes vão se fechar comigo dentro, vou morrer sufocada, algo vai obstruir a saída e vou ficar presa aqui dentro, vai ter um terremoto, etc. O grupo decidiu que aquele seria um bom lugar para o trabalho. Enfileiraram-se e dei um jeito de ficar bem perto da saída. Seguiram-se orações à Mãe Divina, os mantras... E participei da minha maneira. Todas as formas de se chegar à divindade são válidas, tudo depende da (in)consciência.

A descida foi por uma trilha um pouco diferente, algo que por lá se chama "risadinha". Não, não é um pequeno sorriso, é um caminho pela serra, íngreme e cheio de pedregulhos redondos, como se por lá já tivesse passado algum rio. E eu de papetes, tentando manter o equilíbrio sobre aquelas pedrinhas redondas! O sol já se punha, a trilha estava cada vez mais escura e algumas pessoas começavam a sacar as lanternas. Não tenho ideia de como a senhora J. desceu a trilha, porque eu estava muito preocupada em tentar não rolar de vez lá para baixo. Bati o traseiro no chão umas três ou sete vezes, grata por ele ser bem recheado.

Pôr do sol visto da risadinha

Por fim, chegamos à fazenda, onde tomei meu desejado banho frio e fui à cozinha compartilhar do jantar vegetariano feito pelo grupo. Jantar repleto de besouros e gafanhotos, que batiam no nosso rosto, pulavam para dentro dos pratos e das panelas, enquanto a senhora J. gritava: "mamãe!" e dava saltinhos, e eu sorria por dentro. Depois, fomos à nossa barraca, que já estava armada embaixo de uma mangueira e ao lado de alguns belíssimos cogumelos, cercada por besouros e gafanhotos que insistiam em bater fortemente contra a lona, em busca da luz da nossa lanterna. Foi a primeira noite ao pé da Serra do Roncador, em contato muito próximo com o solo. Escuridão, calor, uma excelente companhia ao meu lado e a sensação de que os músculos todos estavam relaxados. Boa noite, Roncador!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

De Santo André a Barra do Garças

Desta vez, resolvemos fazer uma viagem de carro. Um pouco longa e cansativa, mas estávamos com vontade de pegar estrada, e na região do Mato Grosso para onde fomos, ter veículo próprio abre portas para muitas trilhas e cachoeiras. O caminho foi este aqui:



Para mais detalhes:


Exibir mapa ampliado

Saímos de Santo André dia 12 de novembro, umas 16:30. Fomos a São José do Rio Pardo, onde visitamos amigos. Pegamos trânsito, chegamos lá quase 22h. Comemos, dormimos. Inesquecíveis conversas enquanto andávamos de um lado para outro na rua em frente à casa, um de nós de pijamas (!). Passeamos pelo terreno da casa, repleto de árvores, animais, nascente, rio, pasto, vacas... uma espécie de prenúncio do que nos aguardava no Mato Grosso.

Algo me incomodou: a ferida aberta no pé esquerdo, que tenho desde os 11 ou 12 anos de idade. Dezenas de médicos e curandeiros de todos os tipos já examinaram e já fiz uma série de tratamentos. Tem épocas em que ela some, outras épocas em que volta com tudo, como agora. Conforme eu ia andando, sentia a ferida se abrir toda e vazar linfa e sangue, atraindo os mosquitos, que ficavam grudados numa meleca... Fiquei pensando em como faria as trilhas da Serra do Roncador, que são mais intensas. Mas melhor viver um dia de cada vez, certo? No fim das contas, a convivência com a ferida foi um dos elementos marcantes da viagem como um todo, mas isso é assunto para outra ocasião.

Logo após o almoço, seguimos o percurso. Por volta de 18h, paramos em um hotel em Uberaba. No dia seguinte, cedinho, estávamos de novo na estrada, determinados a atingir Barra do Garças, ou a chegar o mais próximos possível dessa cidade. Logo que acordei, ainda no hotel, me deparei com outro problema de saúde: a infecção urinária que me atacou uma ou duas semanas antes resolveu voltar. Tomei um comprimido de Piridium e peguei uma garrafa grande de água. Partimos com a condição de fazer muitas paradas para eu fazer xixi. Enfim, tenho a impressão de que mijei em todos os postos de gasolina que encontramos na estrada entre Uberaba-MG e Rio Verde-GO. Por sorte, depois do almoço, a situação já estava mais controlada e podíamos rodar até umas duas horas sem parar.

As estradas entre Minas, Goiás e Mato Grosso alternam trechos razoáveis com trechos ruins, em obras, com sinalização deficiente. Some-se isso ao fato de que a maior parte dos motoristas tem muita pressa e ansiedade, e quer chegar logo ao seu destino, a qualquer custo. Ultrapassagens perigosas e excesso de velocidade era o que mais se via, e eu rezava para que nos mantivéssemos inteiros até o fim da jornada.. Pela pista, diversos retalhos de pneus de caminhão estourados e cadáveres de animais domésticos e silvestres atropelados: desde cachorros e galinhas até raposas e tamanduás. Às vezes passávamos por trechos longos sem postos de gasolina, banheiros ou placas de quilometragem, o que dava a impressão de que rodávamos sem sair do lugar. E as paisagens pela janela geralmente alternavam entre pastos e plantações de soja, eucalipto ou algo parecido: do cerrado, mesmo, sobrou pouco.

Fim de tarde, nos aproximávamos de Aragarças, cidade de Goiás que é grudada com Barra do Garças, no Mato Grosso. Foi quando nos deparamos com um carro capotado à margem da estrada. Ainda saía fumaça pelo motor, o acidente foi recente. Paramos para ajudar. Por sorte, o motorista era a única vítima e estava bem. Machucou só o braço. Emprestamos o celular para ele se comunicar com conhecidos e a água mineral para lavar o corte profundo, que ainda sangrava. Como muita gente já havia parado para ajudar e a polícia já havia sido acionada, prosseguimos.

Lindo pôr do sol na entrada de Aragarças! Sinto que a região do Roncador tem um talento especial para o pôr do sol, assim como Minas Gerais tem talento para as alvoradas. Passamos as pontes sobre o rio Araguaia e o rio Garças, que ficam na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso, e entramos em Barra do Garças. Encontramos um hotel, deixamos as bagagens e comemos sanduíches na praça. Depois, já meio acabados de tanto viajar, dormimos. Repouso merecido e necessário para que pudéssemos aproveitar o dia seguinte...

Pôr do Sol na ponte sobre o Rio Araguaia

Está certo, viagens longas são mesmo cansativas. Às vezes me pergunto por que gosto delas. Pode ser a oportunidade de ver locais diferentes pela janela, de conhecer os mais diversos postos de gasolina, banheiros e restaurantes de beira de estrada. Mas estive pensando em outra explicação: é viajando por terra que vejo como um local se liga ao outro, como se faz a transição de paisagens e culturas entre as regiões. E também é viajando por terra que consigo pensar, pensar, refletir muito sobre mim mesma. Quer lugar mais sem ter o que fazer do que um ônibus ou um carro, quando você não é o motorista? Enfim, o fato é que gostar dessas longas rotas faz parte de mim...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Tentando atender a dois chamados

Então é o seguinte: estou de férias e tenho duas vozes me chamando: a Tese e a Viagem. A primeira é representante de Atená e Apolo, esses dois deuses que, em algum momento da minha infância, decidi idolatrar. A segunda é representante de Hermes, esse deus que me apareceu uns dois anos atrás e exigiu - com toda a razão - mais amor e dedicação de minha parte.

Quando temos dois deuses a servir, é perigoso escolher. O outro pode ficar muito brabo e exigir retratação. Sendo assim, tentarei conciliar a Tese e a Viagem. Dizem que tese é como filho, então, estou considerando que meu filho já está bem crescidinho e pronto para sair por aí.

Notebook na mala, modem 3G, carregador de bateria que pode ser usado no carro, fiz download de todos os materiais de que acredito que posso precisar. Fora isso, claro que levo barraca, sacos de dormir, capas de chuva, protetor solar, chapeu, biquíni... e viajo de uma forma bastante hermética, isto é, com uma leve ideia de aonde pretendo chegar, mas sem nenhum caminho muito definido, porque isso fica por conta dos deuses.

Até breve!