domingo, 7 de novembro de 2010

A famigerada rodoviária de Campinas (uma breve pausa no relato Roncador - Machu Picchu)

Interrompo por alguns instantes a programação para relatar um breve episódio ocorrido ontem, no trajeto mais frequente de toda a minha vida: o trecho Campinas-São Paulo. O acontecimento se deu na rodoviária de Campinas, que tem uma longa história, que vou resumir a seguir.

Até 1973, os ônibus intermunicipais paravam no centro da cidade. Eu não era nascida nesse tempo, mas creio que isso deveria causar transtornos ao tráfego de carros e pedestres. Então, a prefeitura firmou um contrato com a Maternidade de Campinas, para usar um prédio da Maternidade durante 20 anos. Isso explica por que meu pai e minha tia costumavam dizer por aí que nasceram na rodoviária... Em 1974, foi inaugurada a Estação Rodoviária Dr, Barbosa de Barros, o que resolveu o problema temporariamente. Após o fim do período estipulado em contrato, ainda não havia uma nova rodoviária e a prefeitura foi simplesmente prorrogando...

Estação Rodoviária Dr. Barbosa de Barros, que funcionava no antigo prédio da Maternidade e foi demolida em 2010

A cidade continuou crescendo e claro que o prédio improvisado não dava mais conta. Foi então que, na gestão do Dr. Hélio, prefeito de Campinas desde 2004, finalmente foi construída uma nova rodoviária, o Terminal Multimodal de Campinas, que integrará a rodoviária com o futuro Trem de Alta Velocidade. Foi inaugurada em 2008, alguns meses antes da eleição para prefeito, na qual o Dr. Hélio foi reeleito (afinal, ele é o cara que fez a rodoviária que Campinas estava requisitando há tantos anos!). Em 2010, o prédio onde funcionou a Maternidade e a rodoviária foi implodido, um fato histórico que mobilizou a cidade. Além do interesse político na reeleição, houve muitas outras falcatruas, mas não vou me deter nelas agora. Vou voltar ao episódio de ontem.

Terminal Multimodal, a nova rodoviária de Campinas, inaugurada em 2008 e que só me deu dor de cabeça até hoje

Cheguei na rodoviária por volta de meio dia para comprar passagem para São Paulo. Normalmente, o intervalo entre os ônibus é pequeno e espero no máximo 20 min pelo próximo carro. Desta vez, disseram que o próximo horário seria apenas 13h. Fazer o quê... O jeito era esperar uma hora. Tentei pagar com cartão, mas a Cometa estava sem sistema. A funcionária preencheu a passagem a mão e disse para eu sentar em qualquer poltrona, porque sem sistema não dava para marcar. Fiquei irritada por ter de engolir tanta demora e a falta do "sistema" numa empresa que tem o monopólio das linhas Campinas-São Paulo (pois tanto Cometa, quanto Cristália são do mesmo grupo) e que cobra R$21,50 por um trecho de 100 Km.

Fui à praça de alimentação comer um lanche. Parece essas praças de shopping, com Bob's, Montana Grill e outras redes caras, porque os antigos comerciantes da Dr. Barbosa de Barros, que vendiam coxinhas por um real, levaram um chute na bunda e não puderam sequer participar da licitação.

Depois resolvi ir ao banheiro e descobri que todos eles são pagos (R$1,25 por um xixi), apesar da absurda taxa de embarque de R$ 4,14. Chegando no banheiro, eu não pude entrar, porque é preciso comprar um cartão para passar pela roleta e a funcionária disse estar sem cartões no momento. O funcionário que foi buscar os cartões estava demorando, segundo ela. E a fila do xixi pago só aumentando...

Desisti do xixi e fui ao balcão de informações, onde há uma urna de "reclamações e sugestões". Pedi um formulário e a funcionária teve de ligar para a supervisora (ou outra função desse gênero) para pedir autorização para "estar liberando um formulário de reclamação". Para isso, precisei dizer sobre o que era a reclamação, para que ela repetisse à coordenadora, que, por fim, "esteve liberando" o formulário. Reclamei do banheiro sem cartão, de ter de pagar pelo banheiro e de ter de pedir autorização para "estar fazendo" uma reclamação.

Desci para a plataforma, já querendo dar porrada em alguém. O ônibus que ia para São Paulo às 12:50 partiu. Em seguida, encostou outro ônibus: o das 13:20. Fui perguntar o que aconteceu com o ônibus das 13h e descobri que ele não existe. De acordo com o motorista, como a Cometa estava sem sistema, as funcionárias cometeram um erro e venderam passagem para um horário inexistente. Claro, o Sistema, esse que comanda o mundo inteiro atualmente e sem o qual ninguém sabe fazer porra nenhuma. Eu e outra passageira para o ônibus fictício das 13h tivemos que brigar para sermos aceitas no ônibus das 13:20, além de aguardar mais 20 minutos, nós, que já estávamos lá há pelo menos uma hora.

Uma sucessão de erros da Prefeitura de Campinas, da Cometa e da Socicam (administradora do Terminal Multimodal). Funcionários incompetentes, excesso de burocracia. É assim que os passageiros são (mal-)tratados na Rodoviária de Campinas, que já tem um histórico demasiadamente conturbado. O problema principal é que esse episódio que contei não é isolado. Estimo que eu tenha tido problemas de alguma espécie no Terminal Multimodal em 80% das vezes que o usei.

Morando em São Paulo, eu nunca quis ter carro. Andar de metrô e ônibus me parecia mais eficiente na maioria das situações. Mas em Campinas, cidade bem menor, a situação é outra e não vejo alternativa senão tirar o carro da garagem. A população vai se mexer, reclamar, fazer alguma coisa? Acho que não... Afinal, um povo que esperou quase 30 anos por uma rodoviária decente não deve mesmo ter muita fibra para reclamar e exigir seus direitos.

8 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Nossa, eu teria explodido tudo àquela altura! rs

Beijos,

Jardel disse...

Oi poeta!

Hahaha.. morri de rir com o seu "relato"...

bjs

Ricardo Dias Almeida disse...

É, Gabi... desde 2008, cada viagem é um estresse. Rodoviária entregue incompleta, alimentação cara, banheiro caro (com mictórios estreitíssimos), burocracias do tipo "cartão de embarque", fila para passar o cartão de embarque, entre outras coisas desagradáveis. Quando eu pensava que ia facilitar, acabou ficando pior ainda.

Gabi disse...

Sim, Ricardo, todos nós achávamos que a nova rodoviária seria a solução para os problemas, mas eles só aumentaram ainda mais...

Só que ninguém reclama, daí nada muda, né?

De agora em diante, a Socicam vai enjoar de ouvir meu nome rsrsrs

Luiz Maia Ribeiro disse...

Fui de SP para Campinas dia 17/12/10, e na intenção de facilitar a minha viagem, comprei também a passagem de volta. No domingo dia 19/12, qdo ia me dirigindo para a plataforma, eu obviamente não tinha o bilhete magnético (que só é fornecido qdo se compra a passagem em Campinas. Ou seja, tive que pegar uma fila novamente pra pegar o "bendito" bilhete, como se eu fosse pegar um trem ou coisa parecida. Obs: A rodoviária de SP é no mínimo 5 vezes maior que a de Campinas, e o passageiro se dirige à plataforma sem precisar de bilhetinho magnético. A minha sorte foi que o meu ônibus atrasou, ou eu teria perdido o mesmo. A administração da rodoviária de Campinas confunde organização com burrocracia (com dois erres mesmo).

Gabi disse...

Exatamente, Luiz.
A rodoviária de Campinas ficou altamente burrocrática. Esse bilhete magnético é para que só as pessoas que têm passagem e vão embarcar acessem a região das plataformas. Acompanhantes ficam para fora, a menos que o viajante seja menor de idade, idoso ou portador de deficiência.
Mas se o viajante não estiver nessas condições e alguém quiser acompanhá-lo, pode COMPRAR um bilhete magnético para acompanhá-lo até a plataforma de embarque. E assim, a Socicam ganha mais uma graninha, além da abusiva taxa de embarque. Entende agora o porquê do estúpido controle por cartão magnético?
Recomendo fortemente que você escreva para a Socicam e reclame do ocorrido. Precisamos nos mobilizar para tentar mudar esses procedimentos...

RodrigoOMartins disse...

O terminal Tietê, em São Paulo, não é nada diferente... lojas da máfia da administradora do terminal, banheiro pago, inúmeros contratempos. Fiz a sua rota também, por mais de um ano, e as dificuldades são as mesmas. O problema de "reclamar" não é só com os campineiros. Pode ter certeza que vão instalar um caríssimo "trem-bala", com discursos de que há necessidade de alta tecnologia, e todos esses problemas de transporte (como linhas restritas de metrô em São Paulo, ônibus indecentes em todas as cidades e tarifas caríssimas) continuarão. O vangloriado "Dr. Hélio" tinha tudo pra fazer diferente na concessão da rodoviária. Escolher copiar o modelo paulistano não foi lá das melhores idéias. Os fatos políticos da cidade, nos últimos tempos, têm demonstrado o tipo de interesse que ele e sua esposa tem na cidade...

Anônimo disse...

Rodoviária péssima em todos os aspectos. Sempre viajava pra Campinas, mas ultimamente, não estou indo não, eu quando eu for, vou de carro. Em menos de 13 anos de existência dessa rodoviária, muita coisa ruim já aconteceu, inclusive acidentes. Péssimo projeto.