terça-feira, 22 de julho de 2008

Atualizando: agora estou em Berlim!

Estou um pouco atrasada com as notícias. Vamos ver se consigo dar uma adiantada nas informações...

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No meu segundo e último dia em Roma, que foi domingo passado, fui ao Museu do Vaticano. Eu, Lia e Ju saímos logo cedo. Encontramos Ana K. no metrô (ela estava em outro hotel). Não pegamos muita fila, porque chegamos antes do museu abrir.

Eu achava que o museu do Vaticano teria apenas coisas relacionadas com a religião católica, mas não é bem assim. Tem muitas obras de arte por lá, parece um Louvre em miniatura. Tem até mesmo obras que datam de antes de Cristo.

É interessante notar que muitas das esculturas têm uma espécie de folha cobrindo os órgãos genitais, à moda Adão. Em algum momento, devem ter achado que era um pecado mostrar os genitais em obras de arte e resolveram cobri-las. Mas há também as esculturas castradas: arrancaram o pênis delas! A Igreja castrou a arte!

Em minha opinião, existe uma grande contradição entre o conceito de criação divina do homem e o pudor da exibição do corpo nu. Por que é que uma criação divina deve ficar escondida?! Lembrei de meu médico homeopata, o Paulo de Tarso, que uma vez me disse que muitas pessoas confundem castidade com castração.

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Sem dúvida, o que mais me impressionou em todo o museu foi a famosa Capela Sistina. Michelangelo era o cara! A capela é simples, pequena, não tem nada além de um pequeno altar que mal aparece em meio às paredes coloridas. Na época em que foi construída, as pessoas assitiam à missa em pé, então nem banco tem.

Meus olhos não paravam de rodar pelas paredes, pelo teto, pelos cantos todos de lá. As pinturas são tão perfeitas que, à primeira vista, algumas parecem até ser esculturas, por causa do senso de perspectiva.

O único problema de lá é a multidão. Eu e a Lia nos perdemos da Ana K. e da Ju. Depois, eu me perdi da Lia. Desisti de procurá-la, pois tentar encontrá-la na capela seria algo similar a brincar de "Onde está Wally", com o adicional de que as figuras se movem (não ficam paradas como no livro). No entanto, como milagres acontecem, acabei vendo-a passar na rua na fronteira entre Roma e Vaticano, enquanto eu comia um lanche num trailer. Nos juntamos de novo e fomos ao Coliseu (ou, em italiano, Colosseu).

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Muito interessante pisar em uma construção de uns 2.000 anos atrás! O Coliseu dá a impressão (e claro que não é só impressão) de algo absolutamente sólido e perpétuo.

Incrível pensar que o lugar era usado para que o povo se divertisse vendo leões e hipopótamos comerem cristãos. Há um contraste marcante entre o ser humano em seu esplendor, que pode erguer com força e criatividade uma obra arquitetônica daquelas, e o ser humano cruel, que tem prazer na dor alheia.

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Ao lado do Coliseu, há um sítio arqueológico muito importante. Fomos até lá. Pisávamos em alicerces de construções que foram erigidas antes de Cristo. Sentar nas pedras e olhar a paisagem (árvores, Coliseu, cúpula da Basílica de São Pedro, etc.) era muito relaxante... Tive vontade de pegar um caderno, uma pena e um tinteiro e ficar por lá uma tarde toda, escrevendo.

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À noite, fomos jantar com um simpático professor italiano que havíamos conhecido em Bologna. Conversamos sobre muitas coisas, principalmente semelhanças e diferenças entre Brasil e Itália.

Um dos assuntos mais recorrentes foram as "bad words". Foi assim que descobri que "cazzo" é uma espécie de caralho italiano. Mas o principal: descobri que o equivalente em italiano à expressão "I would like to eat you" não corresponde ao significado da expressão em português. Quando um rapaz italiano quer "manjare" uma moça, isso significa apenas que ele está apaixonado por ela.

O problema dos idiomas é que eles não seguem a regra lógica que diz que se a = b e b = c, então a = c.

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De domingo para segunda eu me lembrei de um sonho, coisa que não havia acontecido desde que cheguei na Europa. Acho que a realidade tem sido tão onírica que não tenho precisado sonhar. Pra uma intuitiva introvertida como eu, ver, ouvir e sentir tantas coisas diferentes tem estimulado demais a minha função sensação extrovertida (que, por ser a inferior, é a que me dá acesso ao inconsciente). No entanto, desta vez eu sonhei e me lembrei do sonho. Ele foi todo em inglês!

Eu estava em um lugar fechado que parecia um parque. Sugeriram que eu fosse escorregar num tobogã. Eu fui e, quando cheguei, vi que não era muito alto - apenas umas três vezes a minha altura. Subi as escadas e percebi que na verdade, era um toboágua. Eu estava de calça jeans e camiseta e não quis molhar a roupa, então eu disse para mim mesma: "water?!".

O funcionário que cuidava do tobogã ficou me olhando, sem entender por que eu não descia. Eu disse: "I'm sorry, I have to return". Comecei a pedir licença para as pessoas que estavam na escada, atrás de mim.

O funcionário perguntou: "Don't you like the tobogã?" (Estranhamente, tobogã era dito em português. Deve ser porque eu não sei como se fala isso em inglês, e no sonho também não sabia, hehehe!). Eu respondi: "Not much. It needs to be more dangerous in order to be exciting!". Ele sugeriu: "So you should try the next one!".

Aceitei a sugestão e fui até o tobogã seguinte. Esse era seco e muito, mas muito mais alto que o anterior! Subi as escadas, olhei para baixo e tive medo. Ainda assim, resolvi escorregar. Pensei: "I'm in Europe! I have to try everything I can!". Então acordei.

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No domingo, acordei cedinho, consegui dar jeito nas malas e fui para o aeroporto Roma Ciampino. Por pouco não me barram por excesso de bagagem: a mala tinha 29 Kg, e o máximo permitido é 20 kg. Mas quando eu fiz a reserva, já tinha pensado nisso e incluído no total de despesas mais 5 kg de excesso de bagagem. Então, dei uma conversada por lá e eles acabaram me deixando embarcar sem pagar despesas extras.

Assim, peguei o avião para Berlim - provavelmente a última cidade que irei conhecer por aqui, desta vez. E a cidade em que faria a minha tão temida "oral presentation".

Conheci um rapaz italiano no avião que também estava vindo para o congresso. No domingo à noite, após a abertura do congresso (com direito a apresentação da Brass Ensemble da filarmônica de Berlim), fui com ele conhecer o lado oriental da cidade. Fomos até a Alexander Platz. Muito interessante por lá, mas fiquei pouco tempo. Ainda pretendo ir com mais calma.

Logo que cheguei no hotel, encontrei o Marco, o Zé e o Altay. Fomos almoçar e eu tive muita vontade de rir quando vi o cardápio. Um monte de letrinha misturada, algumas das quais nem existem no nosso alfbeto. Eu não tinha idéia do que pedir!

Pensei em fazer: "Mi-nha- mãe- man-dou- eu- es-co-lher- es-te- da-qui- mas- co-mo- eu- sou- tei-mo-sa- e- e-la- es-tá- no- Bra-sil- e- não- vai- sa-ber- o- que- eu- pe-di- mes-mo- eu- vou- es-co-lher- es-te- da-qui!" Mas o garçom falava inglês e a gente conseguiu pedir alguma coisa. E tomei uma cerveja da hora!

Na verdade, a gente sempre pede umas três ou quatro cervejas diferentes, uma para cada, e faz um rodízio de copos, para todo mundo experimentar todas.

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Coisa mais importante que aprendi a dizer em alemão: "Ich möchte ein bier"
Coisa mais importante que aprendi a dizer em francês: "Je voudrais un verre de vin rouge"
Coisa mais importante que aprendi a dizer em italiano: "Prego!"

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Hoje apresentei meu trabalho no congresso. Eu estava muito, muito nervosa nos 5 minutos que antecederam a apresentação. Mas quando segurei o microfone próximo à boca, ele me anestesiou. Por alguns momentos, a adrenalina foi bloqueada por algum estranho sistema de neurotransmissão e fiquei tranqüila.

Consegui falar tudo. Acho que a pronúncia estava OK. Tenho a impressão de que não falei muito rápido, nem muito devagar - mas pode ter sido só impressão. Não me perdi, não me enrolei. Consegui responder a pergunta que me fizeram.

Ou seja, tá tudo beleza! Agora que perdi a virgindade de apresentar em congresso internacional, os próximos tendem a ser ainda melhores!

No momento, no entanto, estou me recuperando da descarga de adrenalina. Ainda meio tonta, meio cansada, com os pés doendo devido ao sapato apertado (dia de apresentação eu me visto que nem gente).

Hoje à noite provavelmente vou com os meninos numa balada que tem por aqui. Você paga 12 Euros e tem direito a ir em 5 Pubs. Como tudo na vida tem limite, o máximo de cerveja por pessoa que está incluído na faixa são 40 litros. É um bom jeito de comemorar a vitória!

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Gabi!

Dentre as frases, certamente a mais importante que aprendemos é Prego!

hahahahahahahaha

bz

Lia - continuando o caminho 8p

Rafael Henrique Zerbetto disse...

Olá, Gabi!

Me diverti muito lendo seus últimos relatos, hahaha, o epiśdio do "mangare" me fez lembrar de quando um amigo meu, q não fala castelhano, pediu, na Argentina, para "hacer una ligación" (ele queria telefonar, mas "ligación" na Argentina seria como o "comer" no português).

Qto ao sonho em inglês, realmente, quando uma pessoa não sabe uma palavra na lingua na qual conversa, ela tende a dizer aquela palavra em uma língua q conhece. O interessante é q se vc fala mais de uma língua estrangeira vc vai dar preferência para a outra língua estrangeira ao invés da língua materna. Ou seja, vc só sabe dizer tobogã em português!

40 litros por pessoa?!!! Ô loco! O q vc não agüentar beber pode trazer pra cá, huahuahuahaua...
Parabéns pela apresentação oral!!!

Ontem foi a premiação do concurso de poesia da biblioteca "Adir Gigliotti" e a nossa amiga Rachel ficou em 4o lugar!

Saudades!!!

Bjos,

Rafael