quarta-feira, 9 de julho de 2008

Mais habituada ao local - e as aventuras continuam!

Recebi reclamações pela demora em atualizar o blog - vocês têm razão. É que esses dias, andei com preguiça de escrever, até porque tenho chegado em casa meio tarde. Mas vou atualizá-los sobre o que tenho feito de bom!

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Domingo, o filho e a neta do Françóis vieram a Paris. Eles moram em uma cidade no litoral francês, pelo que entendi. Não sei como se escreve o nome da neta do Françóis, mas pronuncia-se "Emá". Uma menina de quase dez anos, muito bonita e bem educada. Aliás, de maneira geral, as crianças aqui da França são extremamente comportadas - caso contrário, como diríamos no Acre, entram na peia!

Eu, tia Lena e Emá fomos na Conciergerie, um prédio que foi um palácio nos tempos de Napoleão e virou uma prisão nos tempos de Revolução Francesa. Foi lá que a Maria Antonieta ficou presa antes de ser guilhotinada. Os historiadores também acreditam que foi lá que Robespierre passou seus últimos momentos.

Energia pesada, a do local. Senti muito calor, e o dia estava meio frio. Bem, senti as coisas que eu costumo sentir em locais com energias estranhas, não sei explicar. Fiquei até meio tonta.

Vi uma lâmina de guilhotina de verdade!

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Depois da Conciergerie, fomos a umas ruazinhas próximas de Notre Dame, para almoçar. Não me lembro o nome do local, mas são ruas estreitas, com comércio popular. Muitos restaurantes de comidas de vários países. A tia Lena disse que antigamente, era o bairro dos estudantes. Ou seja, é uma espécie de Vila Madalena parisiense... Mas lá as ruas são estreitas mesmo, e cheias de gente! E as fachadas ainda preservam um estilo antigo.

Uma coisa que me impressionou foram as vitrines dos restaurantes. Eles colocam a comida exposta, para chamar a atenção de quem está passando na rua. Frutas, sanduíches, leitões assados, presuntos, camarões, mariscos, tudo fica prontinho na vitrine. Se alguém passa para comprar, eles tiram da vitrine e entregam para a pessoa.

(A tia Lena já havia me dito que aqui na França não se tem com a comida os mesmos cuidados de higiene que nós temos. De fato, as pessoas pegam uma baguete de pão, enfiam debaixo do braço e levam para casa, sem embalar. Já vi muitos franceses saírem do banheiro sem lavar as mãos e irem comer. Tia Lena socióloga acha que é porque por aqui eles não enfrentam os problemas com doenças que nós enfrentamos no ambiente tropical. Até porque, muitas doenças já foram erradicadas há muitos anos.)

Comemos uma "Formule": é como eles chamam as opções em que se combina entrada, prato principal, bebida (normalmente, vinho) e sobremesa. Aqui na França, uma formule custa cerca de 10 Euros. Vem muita comida, fiquei de barriga cheia!

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Em seguida, fomos à Notre Dame. Eu havia visto no Pariscope que haveria um concerto de órgão lá - aquele órgão de foles que tem na igreja. Eu adoro música! Dudu também, ele quer ser músico. Não poderíamos perder um espetáculo desses!

De fato, o concerto foi muito bonito! A acústica da igreja é excelente. Pode ter sido só impressão, mas eu sentia cheiro de incenso...

No próximo dia 13, um brasileiro tocará os órgãos. É músico do Mosteiro São Bento. Infelizmente, já estarei em Bologna e não vou poder assistir.



Os foles de Notre Dame



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Segunda, voltei ao Louvre. Desta vez, fui direto às pinturas renascentistas. Michelangelo, Raphael, Leonardo da Vinci, Boticceli... Alguns pintores franceses, como David, o pintor oficial do Napoleão... Obras maravilhosas, com certeza. É emocionante ver as obras famosas que conhecemos por fotografias.

A maioria das pessoas que vai ao Louvre, vai direto procurar "La Gioconda". Eu não: fui vendo tudo calmamente, pelo menos enquanto eu ainda tinha tempo. Quando finalmente cheguei na Gioconda, fiquei decepcionada. Ela estava dando uma entrevista coletiva. Muitas pessoas com câmeras fotográficas e flashs se aglomeravam diante de um cordão de isolamento formado por cordas e por dois seguranças. E a pobrezinha lá na parede, distante de nós uns cinco metros, atrás de um vidro blindado que refletia os flashs e não deixava transparecer a sua real formosura...

Coletiva de imprensa com La Gioconda


Novamente, apesar das várias horas que passei no museu, não cheguei a ver nem metade. Se somar a primeira com a segunda visita, devo ter visto cerca de um quarto do museu, ou até menos. São tantas coisas maravilhosas que a humanidade tem feito ao longo de tantos anos, que nem uma vida toda seria suficiente para conhecermos todas elas.

Andando pelo Louvre e procurando as salas usando o mapa, fiquei pensando que a construção deve ser uma reprodução fiel do Labirinto do Minotauro. De fato, Napoleão gostava muito de coisas gregas. Eu gostaria de ter levado o fio de Ariadne comigo, para pelo menos poder achar a saída com facilidade. Mesmo com as placas indicando "sortie", eu demorava muito para achar.

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Terça, ou seja, ontem, é um dia em que a maior parte dos museus fica fechada. Por isso, resolvi passear pela cidade, mesmo. Fui à Place de la Bastille. Não achei os tais dos paralelepípedos diferentes que marcam o lugar onde ficavam os muros da prisão demolida. Devo ser mesmo muito ruim de observação, pois todos os paralelepípedos me pareceram iguais.

Depois, comi no McDonalds. Eu precisava saber como é o daqui! E gostei: o hamburger tem gosto de carne de verdade e o preço não é nenhum absurdo: a promoção sai por cerca de seis Euros. Parece caro se transformarmos em Reais, mas pelos preços da Europa, está bem abaixo da média.

Em seguida, segui a sugestão da tia Lena e fui à Place des Gauges. Muito bonita! Um monimento no centro (franceses adoram monumentos!), um gramado, árvores, flores... Típicq praça parisiense, pelo que tenho visto. E várias pessoas sentadas e deitadas no gramado, ao sol, o que por aqui também é bem comum.

Dei uma de européia: sentei na grama e fiquei observando. Olhando as pessoas, o sol, as nuvens, as árvores... E a construção em volta da praça, que para variar, é muito antiga e está preservada.

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Tia Lena havia me dito que perto da Place des Gauges há a casa do Victor Hugo, que foi transformada em museu. Perguntando (em francês!) cheguei até lá. Para minha surpresa, estava aberta e a entrada era livre. Tudo isso eu descobri perguntando e ouvindo as respostas em francês: estou orgulhosa de mim mesma! :-)

Entrei e comecei a observar. Muitos quadros, muitos móveis, muitos livros. Foi quando comecei a ouvir uma explicação, que me pareceu estranhamente compreensível. Compreensível demais! Então reparei que era em inglês. Um rapaz dissertava sobre os detalhes da casa para alguns visitantes. Fui seguindo-os e aproveitando para conhecer um pouco mais sobre Victor Hugo.

Descobri muitas coisas interessantes: além de escritor, ele foi desenhista, decorador e político. Foi exilado no tempo em que um descendente de Napoleão deu um golpe militar. Foi deputado e senador. Quem transcrevia os rascunhos dele para serem levados à editora era a sua amante, Juliette. Ele escrevia de pé, em uma escrivaninha alta. Tem cerca de 4.000 desenhos, de muito valor. Projetou toda a decoração da sua casa e da casa de sua amante. Lutou contra a pena de morte e o trabalho infantil. Enfim, o tipo de pessoa que a gente não compreende como é que pode ter feito tanta coisa assim...

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Saí da Maison de Victor Hugo e peguei o metrô para a estação Opéra (que se pronuncia Operá). Era chegado o momento, pelo qual nutri tantas expectativas, de ver o Ballet na Opéra de Paris.

Encontrei a tia Lena e o Dudu no Café de la Paix. Fomos ao edifício. A fachada já impressiona, como eu comentei em outro post. Por dentro, é ainda mais deslumbrante! A decoração com cada detalhe, normalmente usando motivos da mitologia greco-romana ou representando os grandes artistas. Tudo com muito dourado, com muitos lustres enormes de cristal, com muitas pinturas, muitos mármores minuciosamente esculpidos.

Eu sorria sozinha, e ao mesmo tempo quase chorava de emoção. Entramos na platéia: ficamos em um lugar excelente, porque como os ingressos baratos haviam acabado, acabamos comprando dos mais caros. Não me arrependi de um só centavo gasto. Foi perfeito!

A orquestra, o pianista, os bailarinos... A peça representada foi La Dame des Camelies, e a música era de Chopin. Muito, mas muito piano.

Já percebi que normalmente me impressiono mais com o que ouço do que com o que vejo. No caso, eu ouvia e via, e a música ressaltava os movimentos dos bailarinos, enquanto a dança ressaltava o movimento da música. Tudo numa sincronia, numa sintonia, numa harmonia profundamente emocionantes.

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Quarta feira, eu fiz minha primeira viagem de trem. Fui a Versailles. Fica bem perto de Paris, mas ainda assim, foi uma aventura!

Fui de metrô à Gare de Montparnasse. Pedi informações em inglês (lá os funcionários costumam falar inglês) e descobri que o bilhete é comprado em uma máquina. A gente escolhe o que quer, coloca as moedinhas e a máquina imprime o bilhete e, se precisar, ainda volta o troco!

Peguei o trem para a Gare de Versailles le Chantie. Em menos de 20 min, eu cheguei lá. Seguindo um mapinha que um funcionário da Gare me deu, cheguei facilmente ao Chateau de Versailles. Peguei uma fila de cerca de uma hora para conseguir comprar o bilhete. Estava lotado!

Valeu a pena. Conheci por dentro todo o palácio, onde a nobreza pré-revolução francesa morou. Cômodos enormes, móveis luxuosos, lustres, pinturas, esculturas... Parecia o edifício da Opéra, mas era uma casa e, ao mesmo tempo, uma sede de governo, onde importantes decisões eram tomadas.

Vendo todo aquele luxo, pude entender melhor a revolta do povo. Fico imaginando o que se passava na cabeça de quem não tinha o que comer e via aquele palácio ricamente adornado.

Ao mesmo tempo, também fiquei imaginando como seria morar num lugar desse. Eu adoro espaço, ambientes arejados, flores, sol, jardim - e quando comprar ou construir uma casa, esses elementos não poderão faltar! Nesse sentido, o palácio era simplesmente perfeito! Todos os cômodos amplos, janelas largas, pé-direito alto, sol, ar, visão para o famoso (e maravilhoso) jardim do Palácio de Versailles. Eu adoraria morar lá...

Saindo do Palácio, fui para os jardins. Extremamente grandes: não consegui ver nem metade, para variar. Os jardineiros fazem um excelente trabalho. As flores, as árvores, as fontes, as esculturas, tudo está muito bem cuidado!

Eu ia andando, pensando na vida, sentindo a paz e o silêncio que reinavam no local. Havia não só canteiros de flores, mas também alamedas com árvores, um bosque, muitas fontes, esculturas representando deuses gregos e personalidades importantes... Tirei muitas fotos. É o tipo de imagem que quero ter para sempre gravada não só em fotografia, mas na memória. E ainda hei de voltar nesse lugar com mais tempo, para poder me perder com calma por entre as árvores e as flores.

Contemplando Versailles


Achei um lugar que vendia comida, comprei um sanduíche misto de "jambon formage". Sentei num banco no bosque para comê-lo e beber a água que eu trouxe de casa. O sabor do jambon, do queijo e da manteiga na boca, misturados à visão do bosque e das escullturas, ficou indescritível!
Comendo (de novo) o verdadeiro pão frances: sanduiche de jambon com ementhal e muita manteiga!

Hei de voltar um dia à noite, para ver a iluminação que fazem nas fontes, à noite: dizem que é esplêndida! Hei de voltar acompanhada de alguém que saiba discutir assuntos interessantes, para poder filosofar enquanto olho a paisagem.

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Agora tenho cartão semanal de metrô e ônibus, com direito a carteirinha com foto. Uma idéia que podia pegar em São Paulo! Aqui tem cartão semanal e mesal, e sai bem mais em conta do que ficar comprando passe avulso.
Meu cartão de metro, olha que chique!

São Paulo tem uma vida cultural muito boa, devo admitir. Mas nunca aproveito direito, e um dos motivos é o tempo que se leva de um local ao outro. Uma cidade com cultura, mas sem a mobilidade necessária para que a população aproveite a cultura. Já em Paris, tudo é mais simples.

Nos pontos de ônibus, tem os horários das linhas. Se estiver escrito 12:57, não chegue 12:58, pois você perderá o ônibus. As linhas são extremamente pontuais. Também tem um mapinha com o trajeto do ônibus e as paradas indicadas, então você não precisa ficar perguntando ao motorista se o ônibus passa ou não passa em um determinado local. No metrô, um painel luminoso indica quantos minutos faltam para os dois próximos trens. Então, você sabe quanto tempo terá que esperar, e se o metrô vem lotado, sabe se vale a pena esperar o próximo ou não.

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Se o metrô é bem organizado, a parte de telefonia pública não é. Há poucos orelhões na cidade, já peguei vários quebrados e você só pode telefonar se tiver um Card de Telefonique. O problema é que esses cartões só são vendidos em lojas de Tabac. Eu, a tia Lena e o Dudu passamos muitos dias procurando uma loja de Tabac. Só fui encontrar na Bastille. Porém, é certo que depois que comprei o cartão, comecei a ver lojas de Tabac em vários lugares. Elas resolveram sair do esconderijo!

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Por falar em comunicação, algo que chama a atenção é a experiência de passar vários dias sem celular. Não tenho sentido falta alguma! Pelo contrário, é ótimo não ter que me preocupar em desligar o aparelho quando entro num concerto. É ótimo não ter telefone tocando quando estou andando calmamente numa praça ou no Jardim de Versailles. É ótimo não ter ninguém ligando e me perguntando onde estou e que horas eu volto para casa. Costumamos combinar antes o horário do jantar, e simplesmente chego no horário combinado. É tão fácil... A tecnologia simplificou muitas coisas, e complicou outras.

Outra observação que me intrigou: aqui, o celular funciona no metrô, mesmo quando o trem está no sub-solo!

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Estou complexada. Hoje as pessoas que falaram comigo na rua me chamaram de Madam. E não foi uma só, foram umas três pessoas, em horários diferentes. Até ontem, eu era uma Mademoiselle. Será que fiquei com cara de velha de um dia para o outro?

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Tia Dé me perguntou por e-mail como são as pessoas aqui na França: se são bonitas e charmosas como dizem. O problema é que aqui tem gente de todo tipo, então ainda não consegui formar um modelo padrão.

Os estudantes são como os de qualquer lugar: andam relaxados, de calça jeans e camiseta, sentam na grama para conversar, comer e tomar sol.

Há os executivos, sempre muito bem arrumados (tenho a impressão de que mais do que os executivos brasileiros).

Tem os estrangeiros, que costumam se vestir respeitando a cultura de seu próprio país. Muçulmanas, por exemplo, andam pela cidade de burca e véu. Judeus de tonsura. E assim vai...

Quanto à educação, eu não sei muito bem, porque não conversei com muitos franceses. Os europeus me pareceram ser bem reservados, é difícil puxar assunto com algum desconhecido - até pela limitação da língua. Porém, conversei com o filho do Françóis, que é muito gentil.

Outra coisa que notei é que há muitos idosos por aqui. Eu já sabia disso pelas estatísticas, mas é algo que se nota quando se observam as pessoas nas ruas. Muito mais velhos do que jovens. A tal da pirâmide etária invertida. O que dá aos jovens algumas vantagens, como tarifa reduzida na maior parte dos eventos culturais - o contrário do que acontece no Brasil, que costuma dar redução de tarifa aos idosos.

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Bom, a Lia não pode mais reclamar que não tem o que ler logo cedo, quando chega na USP. Já tem várias páginas relatando minhas últimas aventuras. Amanhã (ou melhor, hoje, pois já é de madrugada), pretendo ir ao Museu de História Natural, no qual tem uma parte todinha sobre evolução! Depois dou notícias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quer dizer que a estão chamando de madam? tadinha da minha filhinha! Vai chegar aqui com cara de minha irmã mais velha! kkkkkkkk!
Beijoca e boas andanças!
mamãe

Rafael Henrique Zerbetto disse...

Gabi, independente do que os franceses digam, para mim vc ainda é mademoiselle. Aliás, o lado bom de te chamarem de "madam" é que não vão mais pensar que vc é menor de idade, hahaha.
Interessante a teoria da sua tia sobre as diferenças de higiene entre brasileiros e europeus, mas eu ainda prefiro acreditar em Gilberto Freyre, que alega que o cuidado do brasileiro com a higiene é resultado da influência indígena na formação da nossa sociedade (leia "Casa Grande e Senzala" quando puder, vale muito a pena).
Por fim, eu também preferiria estar acompanhado de alguém com alma de filósofo quando fosse passear por aí.

Bjão!!!

Rafa