domingo, 20 de julho de 2008

Fortes emoções na estação de trem

Escrevi este post no dia 18 à noite, mas ainda não tinha dado para colocar online. So, here it is!

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Personagens desta história: quatro brasileiras atrapalhadas. Cenário: estação de trem de Blogna. Tempo: muito curto! Cerca de 15 minutos tensos.
Chegamos na estação com muitas malas. Somos quatro mulheres e estamos passando várias semanas na Europa, em lugares com temperatura variando entre 10 e 35 graus. E temos comprado muitos presentinhos para distribuir (principalmente eu, que vim de Paris com um carregamento de vinho e chocolate).
Minha mala vazia já pesa uns bons quilos. Com tudo dentro, ela fica, para mim, "incarregável". Ainda bem que tem rodinha. Mas quando se trata de escada, é um problema! Ainda mais porque ela tem ameaçado abrir. Isso tudo fez com que, na história que se passou, as meninas tenham se referido muito à "mala da Gabi".
Chegamos na estação de trem Bologna Centrale às 19:25 para pegar o trem das 19:40. Mulheres atrasadas... Alguma novidade?
Pois bem, não sabíamos onde era a plataforma. Quando descobrimos, era no piso inferior e me comunicaram que o elevador estava fora de funcionamento. Ou seja, precisávamos descer as malas pela escada comum. Com muito custo, fomos dando jeito nisso. As pessoas passavam por nós olhando feio, mas ninguém nos ajudava.
Chegando no piso inferior, descobrimos que precisaríamos pegar outra escada. Desta vez, para SUBIR para a plataforma! Faltavam 5 minutos para o trem partir. Desesperadas, fomos empurrando de um lado, puxando do outro e levando as malas para cima. Novamente, ninguém nos ajudava.
Acabei ficando com a mala da Ana Karina, e ela com a minha mala (coitada!). Consegui chegar com a mala dela na plataforma e corri para o trem. Empurrei a mala para cima e, enquanto as meninas cuidavam das coisas no vagão, voltei para ajudar a Ana K. Eu pensava: se este trem for embora, ficaremos aqui eu, Ana K. e a minha super mala!
Um dos maiores medos era de que a mala tivesse se aberto e tudo tivesse se espalhado pela escada. Eu ria de nervoso de pensar nessa possibilidade. Felizmente, isso não ocorreu.
Conseguimos colocar a mala no vagão e subir e, menos de um minuto depois, o trem partiu. Todas nós tínhamos no rosto expressões que misturavam desespero, alívio, cansaço e sensação de vitória. Mas ainda faltava encontrar nossos lugares - cerca de três vagões para frente - e acomodar as malas dentro do trem.
Conforme a gente ia passando com a bagagem, as pessoas iam nos olhando com cara feia. Perdi as contas de quantos "Sorry" e "Excuse" eu falei. Quando enfim achamos as poltronas, elas estavam ocupadas por dois soldados italianos. Reunimos coragem e conversamos com eles. Depois de muito observarem nosso bilhete e de meditarem sobre o assunto, eles concluíram que estávamos certas e mudaram de lugar.
Enfim, com tudo resolvido, pudemos respirar. Fizemos um brinde com água mineral. A janela tinha uma paisagem bonita, que logo em seguida virou uma escuridão total: passávamos por um túnel debaixo de uma montanha. Nesse momento, o trem parou.
Quatro caipiras brasileiras dentro de um trem parado debaixo de uma montanha. Foi assustador. Não tínhamos idéia do que estava acontecendo: se era normal, se o trem havia quebrado, ou o quê. Alguma paranóica chegou a falar em atentado terrorista. Para mim, era suficientemente aterrorizante saber que eu estava parada debaixo da terra - claustrofobicamente aterrorizante! Eu ria de nervoso.
O trem começou a andar depois de alguns minutos (ufa!). Chegou numa estação (Firenze, acho) e começou a voltar para trás. Só faltava a gente ter pego o trem errado! Confirmamos, era realmente o trem que ia para Roma. Ficamos sem entender nada, mas o fato é que de fato chegamos aqui.
Pela janela, eu via campos, montanhas, casinhas legais. Água mineral, bolachinha e escrever no caderninho azul: só assim pra eu relaxar.

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Além de tudo isso, havia as conversas com as meninas durante a viagem. Alternamos entre momentos tensos e momentos em que chorei de tanto rir. Um dos episódios relatados durante a viagem merece ir para este blog.
Quando cheguei em Bologna, percebi logo de cara que os italianos eram mais simpáticos com estrangeiros que os franceses. Além disso, os rapazes são mais atirados. Lançam olhares, se aproximam, dão beijinho...
Bem, uma de nós (conto o milagre, mas não o santo!) ficou amiga de um italiano. Ele falava inglês mal e porcamente. Conversávamos com ele mais por gestos do que por palavras de fato. Acontece que, depois de uns dois dias de "amizade", ele falou, do nada: "I would like to eat you".
A garota não quis "give" para ele, mas ele está de parabéns: pelo menos a frase ficou célebre e rendeu risadas por toda a viagem. Até criamos uma música: "I would like to eat you tonight"!

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Aqui na Itália, prego serve para tudo. A gente entra num restaurante e prego. Entra numa loja e prego. Pede desculpas e prego. Agradece e prego. Pergunta alguma coisa e prego. Fala tchau e prego.
Ou seja, se não sei o que falar, prego é uma boa opção. Eu e a Lia temos pensado em responder martelo, parafuso, ou algo assim... Pode ser que a gente faça essa experiência amanhã.

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Ir ao banheiro é algo engraçado por aqui. Cada um é diferente do outro e dá trabalho descobrir onde fica o papel higiênico, como se ligam as torneiras, onde se secam as mãos.
Fora que tem uns banheiros com vaso sanitário alto, o que é pouco funcional para os meus 149 centímetros.
Já percebi que nem todos os locais têm banheiros separados para homens e mulheres, e mesmo quando tem, isso não é muito respeitado. Já vi muitos homens em banheiros femininos.
Mas o mais engraçado foi um banheiro que eu, Lia, Carla e Ana K. usamos num restaurante em Veneza. Quando perguntamos onde ficava o WC, a garçonete nos explicou e nos deu uma espécie de ficha: uma argolinha de metal, que ela disse que era "the key".
Chegamos no banheiro e ficamos pensando em onde enfiar the key. Alguma sugestão? Não. Então empurramos a porta e ela abriu sem dificuldades. Nós quatro usamos o banheiro e nada de acharmos o lugar de the key. Então formulei uma hipótese: a ficha tinha a função de abrir a porta, mas não foi necessária porque já a encontramos aberta.
Porém, quando a Lia entregou the key de volta para a garçonete, ela não achou nem um pouco estranho. Agiu como se fosse normal. Ou seja, provavelmente era algo que ela esperava que usássemos e devolvêssemos. E continuamos sem saber como e onde deveríamos usar!
Última chance: alguém tem alguma sugestão? Eu tenho: podemos enfiar a argola no prego!

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Eu e a Lia nos aventuramos até o vagão restaurante. Interessante, mas meio sujo e muito caro. Tiramos foto. O garçon quis sair também. Como eu disse, italianos costumam ser simpáticos. Prego!

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18/07/2008

Roma, como notou a Lia, lembra São Paulo em muitos sentidos. Muitas pessoas nas ruas, metrô lotado (bom, mas ainda não peguei multidão como as de São Paulo às 18h em nenhuma cidade por aqui), tudo meio sujo (as pessoas aqui jogam muito lixo no chão), motoristas meio doidos (tenho achado os italianos muito barbeiros, e ninguém respeita o pedestre nem quando o sinal de pedestres está verde), calor...
Mas têm edifícios muito mais antigos que os de São Paulo, sem dúvida. E existem uns bondes pelas ruas, e o rio é limpo, e tem gente falando tudo quanto é língua, mais ou menos como em Paris.

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Visitamos outro país hoje: o Vaticano. Interessante, sem dúvida, mesmo para uma não-católica como eu. Lá é bem mais limpo e organizado que Roma.
Fomos à Basílica de São Pedro. É bonita, mas não me trouxe as fortes emoções que sinto quando vou a certas igrejas... Como tem muitos visitantes, acaba perdendo o clima de contemplação, de meditação, de oração que deve reinar nas igrejas. As pessoas falam alto, não têm muito respeito. Me parece, às vezes, que muitos católicos não respeitam o que é de sua própria tradição. Grande parte dos ocidentais precisa aprender a "saber calar, querer calar, ousar calar, calar sabendo, calar querendo, calar ousando, calar calando".
Entrar no oratório foi um alívio. Lá era proibido tirar fotos e a entrada só era permitida para rezar. Silêncio, cheiro de incenso, altar bonito, pessoas caladas, paradas e quietas.
Gostei demais de subir na cúpula da basílica. Fomos uma parte de elevador, outra de escadas (uns 320 degraus). Por mim, eu teria subido tudo de escada, pois a recompensa parece maior quando a gente se esforça mais. Mas as meninas estavam cansadas e não tínhamos muito tempo. De lá de cima, podemos ver o interior da Basílica, e também a vista externa, de onde se enxerga todo o país e grande parte de Roma.


Na praça São Pedro, com a Basílica ao fundo









No alto da Cúpula, tendo Vaticano e Roma a fundo









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Também fomos na Fountana Trevi, onde as pessoas jogam moedinhas e fazem pedidos. Muito bonita a fonte, e tem uma água gostosa de tomar. Eu e a Lia andamos muito pela cidade, fomos parar em vários locais interessantes, embora a maioria deles a gente nem saiba do que se trata.

Eu até gostaria de ter mais tempo para conhecer Roma, mas só tenho mais o dia de amanhã. Domingo vou a Berlim.
Os planos são conhecer o museu do Vaticano, a capela Sistina, o Coliseu, o Pantheon e o que mais for possível.

Sentada na Fontana de Trevi

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Gabi!
P/ a próxima andança, amarra a mala! Arranja uma corda e amarra a dita cuja! E lembre-se de falar pro seu pai, que mala de mulher sempre pesa mais e que é p/ ele arranjar uma mala que fique fechada, mesmo qdo utilizada por uma mulher! (rs) Aliás, a senha dela é pura frescura, né? Ela abre numa boa mesmo sem a senha, basta um pequeno tranco!
É isso aí, vou trabalhar!
Beijão,
Mamãe

Gabi disse...

Mae,
Na verdade, eu nao consigo abrir a mala sem a senha, nao...
E ela soh nao abre sozinha com o peso porque tem aquelas coisas do lado, trancadas com chave.
Bom, o pior eh que agora ainda estah com uma rodinha quebrada, ou seja, nem puxar por ai eu posso!
Ainda bem que aqui em Berlim eu achei cavalheiros para me ajudar.
Chegando em SP o tio Irajy e a tia Marcia vao me buscar (jah falei com eles).
Mas a culpa eh sua, viu? Grande parte do peso da mala eh devido aos vinhos e chocolates, rsrsrs... Quase que nao embarco para Berlim por excesso de bagagem, mas isso eu conto em outro post.
Beijos!