segunda-feira, 8 de novembro de 2010

El Valle Sagrado


Sexta-feira, dia 29 de outubro, foi meu último dia em Cuzco, reservado para conhecer "el Valle Sagrado de los Incas". Trajeto previamente combinado com uma agência de viagens, pois são vários sítios arqueológicos muito distantes um do outro e me pareceu melhor ir com ônibus fretado e guia. Acordei por volta das 6h da manhã, completamente quebrada. O passeio por Machu Picchu esgotou grande parte das reservas energéticas e me deixou com dores musculares nas pernas. Ainda assim, respirei fundo e enfrentei mais uma jornada, porque sabe-se lá quando é que terei outra oportunidade como essa...

Acomodei-me no ônibus e cochilei logo em seguida. Acordei na nossa primeira parada, na beira da estrada, para fotos do vale, que é mesmo bonito. A segunda parada foi numa feira de artesanato (percebi que as excursões sempre param em feiras de artesanato, devem ter feito algum rolo com os comerciantes) e pude comprar as lembranças e encomendas que amigos e parentes me fizeram. Não achei a cocaína e a maconha da boa, que alguns amigos me pediram. Mas comprei a lhama que meu irmão encomendou: lindinha, de pelúcia, com pêlos naturais de alpaca (aos defensores dos direitos dos animais, as alpacas são tosadas, como as ovelhas. Reclamem do uso de pêlos de alpaca só se tiverem algo contra a lã de ovelha, também).

Foto do Vale Sagrado, visto da beira da estrada

Depois seguimos para Písac, uma das cidades incas, que continha quatro povoados, como se fossem bairros. Os habitantes se dividiam por eles de acordo com a classe que ocupavam (sistema parecido com o das castas hindus, embora eu não saiba o nível de mobilidade social existente entre os incas). No meio dos quatro povoados, havia os terraços onde se praticava a agricultura. Quase toda a terra fértil do Peru situa-se nas encostas íngremes das montanhas. Para plantar, os incas construíram terraços de pedra, que resistiram até hoje às erosões e terremotos e, em muitos lugares, ainda são usados pelos peruanos.

Vista parcial de Písac: construções incas em primeiro plano e terraços atrás

Nas encostas de uma certa montanha havia muitos furinhos e eu estava curiosa para saber o que eram. Em breve, o guia esclareceu: trata-se do cemitério inca. Os mortos eram enterrados em lugares de difícil acesso e os caminhos que levavam a esses locais eram imediatamente destruídos, pois aqueles que se foram precisam de paz. Nada de visitas e choradeira, como fazemos em nossa cultura. Os buracos se devem à ação dos espanhóis, que abriram as covas procurando ouro e prata. Trabalho em vão. Metais preciosos eram usados apenas com função decorativa e religiosa, adornando os templos. Os incas nunca os usaram como moeda, nem os colocavam junto aos seus mortos.

Cemitério inca

De Písac, fomos a Ollantaytambo, onde almoçamos e fomos conhecer outro sítio arqueológico. No caminho, porém, tivemos um contratempo que acabou sendo interessante: a cidade estava em festa, comemorando aniversário. Havia um festival gastronômico na praça. O trânsito parou e o guia recomendou que seguíssemos a pé até o sítio arqueológico, caso contrário correríamos o risco de ficarmos parados por muito tempo.

Foi então que tive a oportunidade de sair da rota turística e andar por ruas pequenas e pobres da cidade, vendo pelas ruas as casas e as pessoas comuns: crianças e adolescentes voltando da escola, uniformizados. Mendigos e ambulantes nos perseguindo. Collas com seus trajes peculiares. E não pensem que esses trajes eram por causa da festa: as collas se vestem assim todos os dias do ano, mantendo a tradição.

Do outro lado da rua, uma concentração de collas com seus trajes característicos

A comida que estava sendo vendida na praça embrulhou meu estômago, e olha que eu já estava acostumada a ver e comer coisas de todo tipo. Umas coisas que não sei identificar, mas eram altamente gordurosas e pareciam ser feitas sem a menor noção de higiene. Se eu estivesse com fome, talvez tivesse arriscado. Ainda bem que já tinha almoçado...

Seja lá o que tem nessa panela, você comeria?


Atravessando a muvuca da praça, conseguimos chegar ao sítio arqueológico de Ollantaytambo. Eu ia contar por aqui o que vi e aprendi por lá, mas este post já está suficientemente grande. Fica para amanhã!

4 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Beleza de lugares, heim????

Beijos,

Kassu disse...

Gabi sua maneira de narrar essa sua viagem sua me recordou O Alquimista. Estou adorando já stamos esperando a sua próxima viagem. Que escreve um livro?
Estou publicando no BLOG DO KASSU e recomendando a leitura.
Gostaria que fizesse uma matéria resumo e me enviasse para publicação em Água Boa News.
Estamos eu minha família aguardando.
Não conformamos de não ter encontrado com você aqui em Água Boa.
Gostei do post da rodoviária.

Um abraço do Kassu que Deus continue te abençoando

Gabi disse...

Oi, Kassu!
Pois é, algumas pessoas estão dizendo que eu deveria escrever um livro. De repente até rola, vamos ver...
E pode deixar que providenciarei o resumo para o Água Boa News.
Amanhã publicarei o post sobre Chincheros, depois ainda tenho que falar sobre Lima e sobre os problemas que tive para voltar ao Brasil rs...
Abraços!

Unknown disse...

Gabi acompanhei os passos de sua viagem e gostei muito de ler os momentos que vc narrou em seu blog, parabéns por sua iniciativa sei que muitas outras coisas ainda serão relembradas e narradas por voce voi ficar esperando.
Abraços.