terça-feira, 2 de novembro de 2010

Machu Pichu

Nunca é simples escrever sobre esses lugares que mexem comigo. As palavras faltam, são pequenas diante da ideia e do sentimento. Machu Pichu é um lugar assim, profundo além de belo, e dificilmente saberei reproduzir o que aconteceu aqui dentro.

Entrei na fila às 5:55, após arrombar a porta do hotel, esperar uma hora na fila dos ônibus, subir uma estrada íngreme e sinuosa. Consegui o carimbo "Huahuapicchu" e me senti vitoriosa. Entrei sozinha, sem saber direito para onde ir. À minha frente havia uma trilha de terra batida e, ao meu redor, tudo estava branco. Neblina. Senti que seguindo pela trilha eu em breve veria alguma coisa interessante e fui subindo muitos degraus, parando para descansar aqui e ali, enquanto ouvia uma polifonia de vozes falando diferentes línguas: de quechua a coreano, embora fossem mais comuns o inglês e o espanhol.

No princípio, era o branco...

Fui caminhando devagarinho, respirando fundo para me habituar com o ar úmido e ainda meio frio da manhã. Machu Pichu é mais baixo que Cusco, então eu não sentia el soroche. Ainda assim, há muitas subidas e degraus e todos os caminhos eram cansativos. Eu tinha medo de cair, pois tudo era meio escorregadio. Mas fui andando, caminhando devagarinho.

De repente, aproximei-me de um abismo e arregalei os olhos e a boca. Abaixo de mim, o véu de neblina começava a tornar-se menos espesso e os muros de pedra lá embaixo... a cidade... bem, tudo começava a aparecer, bem embaixo de mim. O tempo todo eu havia caminhado por dentro da neblina sem saber que o que eu buscava estava bem abaixo do meu nariz.

A cidade começa a mostrar-se...

Emocionante. As cortinas brancas se abriam, anunciando o início de um novo ato da peça que comecei a vivenciar desde que saí de minha casa, em São Paulo. E saber que eu havia chegado até ali sozinha... com minhas próprias pernas, meu próprio dinheiro, meu fôlego, minha coragem, a partir das inúmeras decisões que tomei no caminho... passando por aventureira doida, eu que a vida toda tive fama de certinha... Sensação de vitória, sabe? Sucesso.

Sentei na beira do penhasco e observei enquanto o sol rompia a neblina, iluminando os montes, as pedras, as construções dos incas lá embaixo, meu rosto, os outros turistas. "Look, everybody's enjoying the view", disse uma moça à minha direita.

A névoa se dissipando, começa a aparecer Waynapicchu

Impressionada com o lugar, fui explorando os caminhos, as trilhas todas que me esperavam. Tudo calmo, com exceção dos turistas. Tudo Belo. Entre montanhas, ruínas e lhamas, eu me sentia bem. Enfim, cheguei ao ponto que mobilizou toda a rota, que me impulsionou pela estrada e me chamou por todo o caminho.

Acariciando lhamas

Às 7:45, iniciei a visita guiada, percorrendo toda a cidade e ouvindo as explicações. Machu Pichu, ao contrário de quase todas as ruínas incas, não foi destruída pelos espanhóis, porque não foi encontrada. Acredita-se que os dirigentes tenham mandado destruir as estradas quando perceberam que a cidade seria invadida. Ao mesmo tempo, os incas teriam abandonado a região devido a algumas brigas políticas, relacionadas com a sucessão ao trono.

Foi um pesquisador americano, chamado Hiram Bingham, que redescobriu a cidade. Na época, estava completamente tomada pela mata, mas havia uma família morando na região e um jovenzinho o levou ao Templo do Sol e ao Templo das Três Portas. O achado foi publicado no dia 24 de julho de 1911 eos objetos encontrados na cidade foram levados para a Universidade de Yale. Restaram no Peru os monumentos arquitetônicos que, felizmente, não puderam ser removidos para a américa do norte.

Há diversas teorias sobre o papel de Machu Pichu na civilização inca. Entre os peruanos, a mais aceita é de que a cidade tinha um papel administrativo e religioso. Há muitos templos. Foram encontradas 150 múmias na cidade e, considerando-se que apenas a nobreza era mumificada, isso indica que os moradores eram da classe mais alta.

Guia turístico é um mal necessário. Por um lado, as coisas começam a fazer mais sentido, pois entendem-se os símbolos, a história, o contexto. Por outro, é preciso andar com um grupo barulhento e aturar piadinhas, além de acompanhar um ritmo de caminhada que não é meu: detém-se demais em alguns pontos, passa muito rapidamente por outros. Prestei bastante atenção em tudo o que disse o señor Willy, agradeço pelas informações, mas senti um certo alívio quando voltei a andar sozinha. E isso aconteceu por volta das 10h da manhã, quando entrei na fila para subir Waynapicchu.

A cidade de Machu Pichu, agora ensolarada. Waynapicchu ao fundo.

Quando vejo as fotos, é difícil de acreditar que eu realmente estive lá no alto. Mas é fato, eu subi. Uma caminhada longa, cansativa e prazerosa, que fica para o próximo post.

4 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Estava lendo os posts anteriores também, Gabi... E já sei agora que, quando uma porta se fechar, já sei quem pode abrir...rs Significativo esse abrir de portas, não? Nossa, uma viagem inesquecível, por muitas razões, não?
Estarei por aqui no próximo post...
Beijos

Gabi disse...

Tânia, esteve viajando também? Legal! :-)
Acho que o mais importante é que quando uma porta se fecha, temos que lembrar que é possível abri-la... Eu sinceramente desconhecia esse meu dom de arrombar portas que começou a se revelar nesta viagem rs...
Foi tudo muito significativo, mesmo! Ainda estou assimilando... Conforme vou me lembrando dos acontecimentos, entendo um pouquinho mais.
Amanhã começo a trabalhar no novo emprego e acho que a viagem continua rs... A vida é uma viagem nunca pára, né?
Beijos!

Gabi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tania regina Contreiras disse...

Bem, não estive bem numa viagem, estava pertinho, um passeio apenas. Estou viajando mesmo é nas imagens da tua viagem! :-) Demais!

Bj