terça-feira, 30 de novembro de 2010

Parque Nacional da Serra Azul

Durante minha passagem por Barra do Garças, foi tudo tão agitado que não tive muito tempo de escrever, nem de colocar fotos da cidade. Mas agora volto um pouco no tempo para contar o que fiz por lá, até porque é uma região com enorme potencial turístico e que pouca gente conhece ou pelo menos ouviu falar.

Dos lugares que visitei em Barra do Garças, o que gostei mais foi o Parque Estadual da Serra Azul. Localizado em uma montanha, contém um circuito de cachoeiras, um mirante, um Cristo Redentor, um discoporto e vários quilômetros de trilhas. É possível percorrê-las a pé, mas devido à falta de tempo, subi de carro com alguns amigos que fiz por lá.

Logo na entrada do parque, há uma guarita e uma placa, que nos fez dar gargalhadas:

Normas de uso do parque

Ficamos curiosos para saber como é que se pode "conversar com duendes" e "ver discos voadores" sem "bebidas alcoólicas ou tóxicos". Os duendes não quiseram mesmo saber de conversa, mas os discos voadores nós logo avistamos.

Discoporto de Barra do Garças

Nesse momento, o engraçado passou a me parecer ridículo. Nada contra os que dizem ter avistado ou feito contato com os discos voadores. Não duvido. Mas essas naves e esses ETs mal-feitos e horrorosos quebram o tom sério de qualquer ideia ou paisagem. Conversando aqui e ali, comecei a apurar as informações sobre o Discoporto. Ele foi criado pelo então vereador Valdon Varjão, que também se tornaria prefeito e senador, com o objetivo de incentivar o turismo na região e chamar a atenção para o avistamento de OVNIs. O projeto original envolvia a construção de uma pista de pouso para discos voadores, com cerca de cinco hectares, mas isso não foi concretizado. Dizem que a frequência de turistas e místicos no local é realmente alta, mas não há registros de que tenham sido avistados OVNIs por ali desde a inauguração do discoporto. Não culpo os alienígenas pela ingratidão: no lugar deles, eu me sentiria ofendida com uma homenagem tão horrorosa.

Vale a pena dizer que o Discoporto é também um marco do centro geodésico do Brasil, ou seja, o ponto equidistante dos limites oeste e leste (oceano Atlântico) do país. Falarei mais sobre centros geodésicos num post futuro.

A próxima parada foi no mirante do Cristo Redentor. Não sou católica nem estritamente cristã e, para ser muito sincera, acho estranho que a maior parte das imagens de Jesus o representem crucificado, morto, sofrendo pela ignorância humana. Para mim, seria muito melhor mostrá-lo alegre, transmitindo o Conhecimento e o Amor que inspiraram os próximos dois milênios. Sendo assim, os Cristos todos que povoam as cidades que visito não me interessam. O que me atrai são os mirantes, já que essas imagens costumam ficar em lugares bem altos.

Nesse de Barra do Garças, é possível chegar por uma escada com exatamente 1220 degraus. Mas nós não tínhamos muito tempo e subimos de carro. Foi então que entendi a localização dos limites de município e de estado. Olhando morro abaixo, era possível avistar Aragarças (GO), à esquerda do rio Araguaia; Pontal do Araguaia (MT), ao centro, nessa espécie de triângulo invertido que se formou entre os rios Garças e Araguaia. E à direita, Barra do Garças (MT).


Vista do Mirante do Cristo Redentor

Debaixo daquele sol quente, fiquei aliviada quando fomos para o circuito das cachoeiras. Estacionamos o carro no alto e fomos descendo, parando para tomar banho aqui e ali. Meus amigos me disseram que há cerca de doze quedas d'água. Tivemos que parar lá para a quinta ou sexta, pois eles tinham hora para voltar, mas foi o suficiente para admirar a beleza e a calma do local. E nesse meu primeiro dia de viagem, já pude sentir o contato com a natureza, que tanto desejei, eu que estava saturada da vida excessivamente paulistana e urbana. Os sons dos animais, dos pássaros, das águas. O ar fresco, leve. O equilíbrio dinâmico da Vida que se renova a cada instante. E a água batendo forte nos ombros, nas costas, na cabeça, levando embora tudo o que o corpo já estava cansado de carregar.


Cachoeira do Parque Nacional da Serra Azul

Voltamos para Barra do Garças, me despedi dos rapazes, que foram para a cidade onde moravam: Canarana. Combinamos de nos encontrar novamente quando eu passasse por lá, mais para o fim da semana. O final da tarde e a noite em Barra do Garças foram agitadíssimos, mas a única coisa que merece ser mencionada neste post foi a passagem pelo Parque das Águas Quentes.

Disseram-me que era um lugar imperdível: águas termais, naturalmente aquecidas. Cheguei lá à noitinha, mas fiquei decepcionada. Havia no ar um cheio de enxofre, compreensível, pois a água vulcânica deve ser sulfurosa. Mas ele se misturava a um odor de álcool, o que também era compreensível dada a enorme quantidade de latinhas de cerveja jogadas nas bordas das piscinas. Muita gente bêbada conversando e comendo dentro da água, formando uma meleca nojenta. Homens nojentos e bêbados me olhando fixamente, pois garota sozinha de biquíni é presa fácil, não é? Cerca de oito e meia da noite saí do parque e telefonei para um mototaxista ir me buscar. Essa foi a melhor parte do passeio noturno: voltar para a cidade de moto, com o vento batendo no rosto, a estrada toda escura proporcionando uma visão privilegiada das estrelas e da lua cheia. Apesar do ruído do motor, eu ouvia sons de grilos e pássaros e me sentia livre... Parecia mesmo que eu já estava viajando há uma semana, mas então me lembrei: este é só o primeiro dia! Dormi contente da vida.

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Gabriela,

Acho que já escrevi isso, mas vou repetir: você escreve muito bem! É fácil visualizar as cenas que você descreve...

Duas coisas chamaram atenção no post: 1) a referência a Valdon Varjão, "figurinha carimbada na região". Já esteve no Jô, falando do disco porto, idéia tida como maluca no inícío, mas que ajudou muito no já conhecido turismo exotérico (vai com "x" mesmo); 2) As águas quentes são maravilhosas... Ocorre que depois das 17h as bombas são desligadas e o parque perde um pouco a graça. Durante o dia, o parque é limpo, com ambiente bem familiar, muito animado, cheio de crianças, pessoal da terceira idade e há uma atmosfera muito, muito agradável. Quem sabe numa próxima, vc possa tirar a má impressão inicial ;)
Um abraço

Anônimo disse...

Só um detalhe que faltou no post anterior:

O Valdon Varjão foi a pessoa que, ainda na década de 70, autorizou Dna Helena a procurar um local em N. Xavantina para a construção do Templo... Ela escolheu o terreno próximo ao rio, que conhecemos hoje! Na época, Nova Xavantina ainda não era emancipada e fazia parte de Barra do Garças.

Gabi disse...

Alexandre,

Sobre o discoporto, achei o projeto interessante e acredito que foi bem sucedido em seu propósito de atrair o turismo exotérico. Só acho que as naves e estátuas são mesmo muito feinhas e que os "ETs" merecem uma homenagem mais bonita rs

Eu não sabia dessas histórias do Valdon Varjão. As únicas informações que obtive sobre ele foram essas que coloquei no blog: que foi vereador, prefeito e senador, e que a ideia de construir o discoporto foi dele. É engraçado que aos poucos as coisas se encaixam, vou descobrindo que tudo na viagem estava relacionado entre si.

Fico mais animada em saber que a má impressão do Parque das Águas Quentes foi só algo relacionado com o horário... Mas ainda acho que bebidas alcoólicas e comida deveriam ser proibidas nas piscinas. Voltarei lá numa próxima oportunidade!

Abraços!

Tania regina Contreiras disse...

Gabi, ando por aqui te lendo e curtindo os relatos da sua viagem. Meio silenciosa, tempo corrido, mas por aqui...Tem razão,os ETs mereciam uma coisinha mais apurada..rs..
Beijos,

Anônimo disse...

As mulheres, como sempre, muito observadoras, detalhistas e cheias de nhém-nhém-nhém (como disse FHC tempos atrás). Acontece que, quem está fazendo turismo, deve aceitar as coisas como ela se apresentam naquele momento, embora as críticas sejam válidas. Só não podemos é, com nossos pensamentos, menosprezar os moradores da região, já que cada lugar tem suas peculiaridades, sua cultura, e eles podem ter um modo de pensar e de agir diferentes do nosso. Acho que o pode ter ocorrido foi um "choque cultural": a metrópole versus o interior, onde muita coisa pode soar ou parecer estranho!