sábado, 6 de novembro de 2010

A Montanha Machu Picchu

E agora, como continuar a contar esta história? Precisei de alguns dias para elaborar uma forma de descrever o que aconteceu depois. Foi o tudo no nada, como em Canarana.

Após descer de Waynapicchu, obviamente eu estava exausta. Saí do parque a procura de banheiro e comida. Doeu no bolso pagar um lanche na cantina (devido ao monopólio, exploram os turistas, e não o turismo). Depois de forrar o estômago, pensei em ir logo para Águas Calientes, mas Machu Pichu ainda me chamava e voltei ao parque (o ingresso dá direito a um dia de visita, de forma que o visitante pode entrar e sair quantas vezes quiser).

Machu Picchu à tarde ficou vazio. A maior parte dos turistas chega cedo e vai embora na hora do almoço, para pegar o trem de volta a Cuzco. Eu sabia aonde queria ir. Era uma trilha que eu tinha visto logo cedo, antes ainda de fazer a visita guiada. Começava em uma cabana de palha, que tinha um livro de visitas, como aquele de Waynapicchu, mas com menos controle: não havia funcionários fiscalizando se as pessoas, de fato, assinavam. De acordo com o mapa gentilmente fornecido pelo meu guia, a trilha levava à Ponte Inca. Não que eu soubesse como era a ponte ou tivesse uma vontade especial de conhecê-la. O motivo que me levou a percorrer a trilha foi o fato de estar vazia. Queria ficar um pouco sozinha naquele lugar. Fui a visitante de número 77 naquele dia (e a última, pois quando voltei, ninguém mais havia assinado abaixo do meu nome).

A Montanha Machu Picchu

A trilha para a Ponte Inca segue pela montanha Machu Pichu. Explicando: Machu Pichu é o nome da cidade, mas também de uma montanha específica. Assim como existe a montanha Waynapicchu, que fica dentro de Machu Pichu, existe também a montanha com o nome Machu Pichu. Algumas pessoas seguem até o seu topo, percorrendo uma trilha de cerca de 2h para ir e 2h para voltar (porém, bem menos íngreme que a trilha de Waynapicchu). Infelizmente, eu não teria tempo para fazer esse caminho, então segui para o outro lado, pela trilha da Ponte Inca.

No caminho, encontrei pássaros, plantas e insetos bem peculiares, respirei devagar, andei sentindo cada contração dos meus músculos (doloridos pelo esforço contínuo). Acabei parando na frente de uma fenda profunda em uma rocha. Parei e fiquei observando, muito entretida com algo que não sei bem como explicar. Chega um daqueles momentos em que é preciso silenciar. Ali aconteceu o tudo no nada. Pela segunda vez neste ano, senti que saí de mim, mesmo com total consciência de meu corpo, de quem eu era, de onde eu estava. Quando finalmente voltei, algo me disse que a missão estava cumprida. O processo de transformação estava concluído, a borboleta saiu do casulo. A viagem já tinha surtido efeito, dali para frente seria o caminho de volta e o trabalho de aplicar e transmitir o que aprendi.

Continuei caminhando até o final da trilha, onde há a tal ponte inca. Não é possível passar por ela, está interditada, mas dá para vê-la de longe. Pela foto, percebe-se claramente o porquê da interdição. Os caminhos dos Incas eram complicados. Mas depois dessa viagem, já entendo o que os motivava a construir e percorrer trilhas tão difíceis e, se a trilha estivesse aberta, não duvido que eu teria ultrapassado a ponte.

Ponte Inca

Tentei tirar mais algumas fotos da trilha, mas a bateria da máquina fotográfica arriou, ao mesmo tempo em que acabou o espaço no cartão de memória da câmera (simbólico). Retornei à porteira do parque. Reencontrei as pessoas de Lima que conheci no alto de Waynapicchu, voltamos para Águas Calientes, jantamos juntos conversando sobre política brasileira e peruana. Percebi que os peruanos, de maneira geral, entendem e gostam de política. Incrível como sabem tudo sobre Dilma, Serra, Marina, Lula, ... E nós pouco sabemos sobre o país deles, eu chegava a ter vergonha de minha ignorância.

Peguei o trem de volta a Ollantaytambo, o ônibus de volta a Cuzco, e dali para frente fui conversando com um japonês que iria no dia seguinte para os Estados Unidos. Cheguei no albergue por volta de meia noite, dormi pesado, mas acordei cedo como sempre, porque no dia seguinte eu ainda tinha um passeio a fazer: percorrer o Vale Sagrado dos incas.

Um comentário:

Unknown disse...

Hola Gabriela, lo importante que tu viaje acá en Perú fue de lo mejor, a excepción de Lima-te acuerdas que hablamos como era de caótico Lima- tus fotos están muy bonitas,lo que cuentas de Cuzco es la descripción mas exacta que haz podido dar.

Gracias por mencionarme en tu bloc y como lo escribes falto tiempo para una aun mejor despedida.

Cuídate mucho, un beso y un fuerte abrazo

Handder