terça-feira, 27 de novembro de 2012

De Santo André a Barra do Garças

Desta vez, resolvemos fazer uma viagem de carro. Um pouco longa e cansativa, mas estávamos com vontade de pegar estrada, e na região do Mato Grosso para onde fomos, ter veículo próprio abre portas para muitas trilhas e cachoeiras. O caminho foi este aqui:



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Saímos de Santo André dia 12 de novembro, umas 16:30. Fomos a São José do Rio Pardo, onde visitamos amigos. Pegamos trânsito, chegamos lá quase 22h. Comemos, dormimos. Inesquecíveis conversas enquanto andávamos de um lado para outro na rua em frente à casa, um de nós de pijamas (!). Passeamos pelo terreno da casa, repleto de árvores, animais, nascente, rio, pasto, vacas... uma espécie de prenúncio do que nos aguardava no Mato Grosso.

Algo me incomodou: a ferida aberta no pé esquerdo, que tenho desde os 11 ou 12 anos de idade. Dezenas de médicos e curandeiros de todos os tipos já examinaram e já fiz uma série de tratamentos. Tem épocas em que ela some, outras épocas em que volta com tudo, como agora. Conforme eu ia andando, sentia a ferida se abrir toda e vazar linfa e sangue, atraindo os mosquitos, que ficavam grudados numa meleca... Fiquei pensando em como faria as trilhas da Serra do Roncador, que são mais intensas. Mas melhor viver um dia de cada vez, certo? No fim das contas, a convivência com a ferida foi um dos elementos marcantes da viagem como um todo, mas isso é assunto para outra ocasião.

Logo após o almoço, seguimos o percurso. Por volta de 18h, paramos em um hotel em Uberaba. No dia seguinte, cedinho, estávamos de novo na estrada, determinados a atingir Barra do Garças, ou a chegar o mais próximos possível dessa cidade. Logo que acordei, ainda no hotel, me deparei com outro problema de saúde: a infecção urinária que me atacou uma ou duas semanas antes resolveu voltar. Tomei um comprimido de Piridium e peguei uma garrafa grande de água. Partimos com a condição de fazer muitas paradas para eu fazer xixi. Enfim, tenho a impressão de que mijei em todos os postos de gasolina que encontramos na estrada entre Uberaba-MG e Rio Verde-GO. Por sorte, depois do almoço, a situação já estava mais controlada e podíamos rodar até umas duas horas sem parar.

As estradas entre Minas, Goiás e Mato Grosso alternam trechos razoáveis com trechos ruins, em obras, com sinalização deficiente. Some-se isso ao fato de que a maior parte dos motoristas tem muita pressa e ansiedade, e quer chegar logo ao seu destino, a qualquer custo. Ultrapassagens perigosas e excesso de velocidade era o que mais se via, e eu rezava para que nos mantivéssemos inteiros até o fim da jornada.. Pela pista, diversos retalhos de pneus de caminhão estourados e cadáveres de animais domésticos e silvestres atropelados: desde cachorros e galinhas até raposas e tamanduás. Às vezes passávamos por trechos longos sem postos de gasolina, banheiros ou placas de quilometragem, o que dava a impressão de que rodávamos sem sair do lugar. E as paisagens pela janela geralmente alternavam entre pastos e plantações de soja, eucalipto ou algo parecido: do cerrado, mesmo, sobrou pouco.

Fim de tarde, nos aproximávamos de Aragarças, cidade de Goiás que é grudada com Barra do Garças, no Mato Grosso. Foi quando nos deparamos com um carro capotado à margem da estrada. Ainda saía fumaça pelo motor, o acidente foi recente. Paramos para ajudar. Por sorte, o motorista era a única vítima e estava bem. Machucou só o braço. Emprestamos o celular para ele se comunicar com conhecidos e a água mineral para lavar o corte profundo, que ainda sangrava. Como muita gente já havia parado para ajudar e a polícia já havia sido acionada, prosseguimos.

Lindo pôr do sol na entrada de Aragarças! Sinto que a região do Roncador tem um talento especial para o pôr do sol, assim como Minas Gerais tem talento para as alvoradas. Passamos as pontes sobre o rio Araguaia e o rio Garças, que ficam na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso, e entramos em Barra do Garças. Encontramos um hotel, deixamos as bagagens e comemos sanduíches na praça. Depois, já meio acabados de tanto viajar, dormimos. Repouso merecido e necessário para que pudéssemos aproveitar o dia seguinte...

Pôr do Sol na ponte sobre o Rio Araguaia

Está certo, viagens longas são mesmo cansativas. Às vezes me pergunto por que gosto delas. Pode ser a oportunidade de ver locais diferentes pela janela, de conhecer os mais diversos postos de gasolina, banheiros e restaurantes de beira de estrada. Mas estive pensando em outra explicação: é viajando por terra que vejo como um local se liga ao outro, como se faz a transição de paisagens e culturas entre as regiões. E também é viajando por terra que consigo pensar, pensar, refletir muito sobre mim mesma. Quer lugar mais sem ter o que fazer do que um ônibus ou um carro, quando você não é o motorista? Enfim, o fato é que gostar dessas longas rotas faz parte de mim...

2 comentários:

Sudastelaro (James R. Piton) disse...

Gabi, muito boas as suas notas de viagem!

Estou na mesma ansiedade, porque quero ir desde Paulínia por terra, com a família, para participar do Brazila Kongreso de Esperanto em Barra do Garças.

Dúvida cruel: vi a rota por Itumbiara e por Ituiutaba. Qual das duas voce^ seguiu? Se ambas, qual recomendaria (considerando paradas, porque tenho crianças)?

Dankon!

Gabi disse...

James, os dois caminhos têm seus prós e contras.
Indo por Itumbiara, tem um trecho muito ruim logo após Uberlândia, porque estão duplicando a pista e há muitos trechos em obras. Não há sinalização na estrada, nem em relação aos locais de ultrapassagem, o que torna o trecho muito perigoso. Acredito que esse caminho é o que tem mais pontos de parada.
Já por Ituiutaba, as estradas me pareceram melhores, mas há muitos trechos com tráfego de veículos de grande porte, que andam bem devagar e são difíceis de ultrapassar. Existem pontos de parada pelo caminho, mas tenho a impressão de que são em menor quantidade que na rota por Itumbiara.
Qualquer que seja sua opção, uma dica muito importante é NÃO pegar a estrada que passa por Montividiú. O GPS e o Google vão tentar te mandar por essa rota, mas eu soube em conversas com a população local que a estrada está em condições muito ruins. Melhor ir por Jataí, ainda que aumente um pouco a distância. Aliás, Jataí me pareceu ser uma cidade muito legal, um dia ainda pretendo voltar para lá com calma.
Também tome cuidado na estrada de Jataí a Barra do Garças, porque a imprudência dos motoristas e os animais na pista aumentam muito as chances de acidentes.
Mas de maneira geral, foi tudo tranquilo. Boa viagem para toda a família!