sexta-feira, 20 de abril de 2012

Xixi na garrafa. Ou: Nos Confins de Minas Gerais. Ou: Uma noite no motel com uma enfermeira.

Ouço opiniões controversas sobre viagens de trabalho. Alguns amam, outros odeiam, outros só estão meio cansados. Eu, particularmente, adoro. Mesmo cansativas, sempre acabo conciliando diversão e lazer, nem que o lazer seja entrar no mar usando roupa social ou observar a paisagem pela janela de um trem da CPTM.

Geralmente, minhas viagens de trabalho contam com poucos imprevistos (o que certamente é muito diferente das minhas viagens de lazer). Deve ser porque planejo mais e presto mais atenção para que tudo dê certo. Mas desta vez...

Eu estava em um evento em Viçosa, com uma verdadeira comitiva de 9 profissionais, dentre professores e técnicos de nível superior, todos engajados em assistência estudantil. O evento foi ótimo, desde as discussões com outras universidades até as cachaças no fim da noite; desde apresentar dados sobre atendimento psicossocial, até dançar o Funk da Pamonha na praça da cidade.

E então chegou a hora de partir. Duas e pouco da tarde, entramos num microônibus com 8 pessoas de nossa comitiva e mais algumas pessoas de outras cidades, rumo ao aeroporto de Confins. A nona pessoa era o chefe, que resolveu voltar o percurso todo de ônibus e iria embarcar umas sete da noite.

A estrada que liga Viçosa a Belo Horizonte é cheia de curvas. Nem por isso o motorista diminuiu a velocidade. Parece existir um consenso entre motoristas de que andar devagar nessas estradas é coisa de paulista. Foi então que, em Ponte Nova, uma lombada resolveu atravessar a pista de repente, fora da faixa de pedestres, e o motorista não viu. Resultado: todo mundo fez um breve voo, aterrissando nas poltronas alguns segundos depois. Uma das meninas fez um pouso forçado, após colidir o nariz com o bagageiro do ônibus, provocando uma cachoeira de sangue.

Chamamos a enfermeira da nossa comitiva, que imediatamente foi socorrer. O corte visível era superficial, mas provavelmente rompeu-se um vaso interno, pois a hemorragia era forte. "Coincidentemente", um dia antes, eu havia comprado gaze e esparadrapo para caso eu precisasse usar sapato fechado, pois tenho algumas chagas no meu pé esquerdo. Como depois disso só andei de chinelo, acabei nem usando, e foi providencial nesse momento de primeiros socorros.

Feito o curativo, pensamos em prosseguir viagem, mas fomos informados de que o motorista havia esquecido duas pessoas em Viçosa, e que precisaríamos esperá-los chegar de táxi até Ponte Nova. Garantiram que isso não implicaria em perder o voo para São Paulo, pois faltavam apenas duas horas e meia até Belo Horizonte. Felizmente, cerca de 15 minutos depois, liberaram-nos para prosseguir viagem.

Achei que o motorista iria com mais calma, após o acidente, mas continuou correndo. Quando a enfermeira decidiu ser portavoz do grupo e foi pedir para ele ir mais devagar, ele disse para não nos preocuparmos, pois ele estava "apenas a 100 Km/h". Bem, eu não andaria numa estrada daquelas a mais que 60 Km/h. Também não tentaria ultrapassar nas curvas, visto que era pista simples. Nem emparelharia com dois ônibus durante um apavorante minuto, para disputar quem ultrapassaria quem, enquanto eu via criancinhas me darem tchau alegremente pela janela e percebia que poderia até tocar a mão delas, se arriscasse estender o braço para fora do microônibus. Mas o motorista não tinha os meus pensamentos conservadores.

Cerca de 17h, minha bexiga já reclamava e a enfermeira - sempre a portavoz - pediu ao motorista para parar, pois precisávamos fazer xixi. O motorista certamente não entende nada de bexiga feminina, pois disse que passou do ponto de parada de propósito e que não poderia parar nem por um minuto, caso contrário perderíamos o voo.

Foi então que uma funcionária de outra universidade nos contou da técnica da garrafa plástica. Para não estender a explicação, segue abaixo uma figura que dá uma ideia do que fizemos, de forma improvisada. Imaginem que o "produto" é um folder do evento e o vaso sanitário é uma garrafa de água mineral de 500 mL, vazia. E que a ponta do funil se encaixa no gargalo da garrafa.


Claro que a princípio recusei, pensando na vergonha que tenho de mijar perto de qualquer pessoa (homem, mulher, namorado, tanto faz), nos dois respeitáveis senhores que nos acompanhavam no microônibus e nas habilidades necessárias para acertar a pontaria no meio das curvas.

Mas às 18h, quando chegamos em Belo Horizonte e o trânsito estava completamente parado, percebi que eu teria que vencer meus tabus escatológicos. Aceitei uma garrafa e um funil-de-folder-de-congresso, carinhosamente preparados pela companheira. Fui ao fundão do microônibus, agradeci pela minha brilhante ideia de viajar de saia, tirei a calcinha, me posicionei e enchi a garrafa toda. Segurei o restante da urina para quando chegasse ao aeroporto. A enfermeira tinha dito que a capacidade da bexiga costuma ser de 500 mL, mas que com 300 mL já ficamos com vontade de urinar. Percebi que a minha aguenta um pouco mais... Vejam como um incidente de viagem proporciona autoconhecimento!

Enfim, a sorte foi que me aliviei no ônibus mesmo, porque só chegamos no aeroporto de Confins às 21h, cerca de 50 min após nosso voo ter decolado. O motorista zarpou, alegando que se nos esperasse, poderia ser multado por parar em local proibido. E depois de rodar por muitos guichês, concluímos que o melhor seria remarcar o voo para o dia seguinte, 6h da madrugada, pela mesma companhia aérea.

Jantar fez com que os ânimos de todos se acalmassem. Pensamos em esperar no aeroporto até o embarque, visto que já eram 11 e tanto da noite, mas o frio e o cansaço venceram. Como não achamos nenhum hotel com preço e distância do aeroporto razoáveis, a opção final foi um motel há cerca de 10 min de táxi dali.

E assim, quase meia noite, enviei mensagem para o chefe (que a essa altura já estava confortavelmente instalado na sua poltrona de ônibus com motorista cuidadoso, e já sabia de boa parte da nossa epopeia) avisando que estávamos a salvo e a volta estava marcada para o dia seguinte, e que o único problema no momento era que eu estava no quarto de motel com a enfermeira e ela estava se fazendo de difícil. Ele sugeriu que eu deixasse a moça pra lá e procurasse saber se havia algo de bom para assistir na TV do motel, e foi assim que assistimos futebol e jornal.

Umas 5h da manhã, o táxi voltou para nos buscar. Chegamos ao aeroporto e constatamos que nossos colegas (que estavam no mesmo motel) não haviam feito checkin. Liguei para eles. Acontece que o outro motorista de táxi não apareceu para buscá-los, simplesmente. Fomos adiantando o checkin de todo mundo, de posse dos localizadores, e salvamos a pátria. Quando eles chegaram (i.e., cerca de 1 ou 2 minutos após o encerramento do checkin), fizemos uma corrida até o portão de embarque, com malas e tudo.

Chegando em São Paulo, a van da Universidade (com um motorista bastante cuidadoso) me deixou no metrô Sacomã, junto com a enfermeira. E eis que, chegando na estação Tamanduateí, onde eu faria integração com a CPTM, o chefe surgiu, saindo de outro vagão do mesmo carro em que estávamos. Sim, ele saiu de Viçosa 5h depois de nós, mas chegou em casa no mesmo horário, pegando o mesmo metrô.

É a vida... Por isso mesmo é que gosto de viajar: a sensação de caos é maravilhosamente excitante!

5 comentários:

Carlafeliz disse...

Excelente descrição Gabi. Eu ri muito alto com o relato da nossa epopeia. Mas acho que da próxima vez, vc não deveria viajar acompanhada da enfermeira, pois em todas as situações era ela quem estava ao seu lado, acho que o problema é com ela. rsrsrsrsrsrs

Mara disse...

Essa foi a melhor descrição de nossa "epopéia", creio que ninguém a faria melhor! Parabéns por fazer da tragédia uma comédia!!!

Anônimo disse...

kkkkkk. Gabi, maravilhoso seu texto. Pena não poder ser oficializado como o relátório da atividade. Acredito que o pessoal de Viçosa, que deve estar constrangido, pelo menos se divertiria um pouco com essa deliciosa leitura.
Ou pode...?????????kkkkkkk

Cláudia (a luz)

Gabi disse...

Claudia, eu também fiquei pensando que esta bem que poderia ser a versão oficial para enviar a Viçosa, rsrsrs... Afinal, por que é que a vida acadêmica nos exige tanta seriedade?! :-)

Anônimo disse...

oi vc e piscicologa?to precisando de uma vc er de onde???? AH MAS AGFINAL KK PRAVBBBENS PELA CORAJEM DE URINAR NO LUGAR CERTO PELO MENOS N FEZ NAS CALÇAS NEM NO CHAO DO MICRO ONIBUS PRECISO SABER C VC PODERIA SER MINHA PISCICOLOGA