Nos tempos do Mestrado Foto: Rafael Zerbetto |
Ontem à tarde, enquanto tentava convencer meus olhos a não se fecharem porque eu tinha que coletar mais alguns dados para a tese, lembrei do meu último ano de Mestrado. A bolsa da FAPESP havia se encerrado, eu comecei a trabalhar em uma empresa, das 9h às 18h. Ia para casa, jantava e tomava banho, umas oito e pouco da noite sentava na frente do computador para escrever a dissertação. Músicas dos Beatles, Adoniran, Nirvana, Karnak ou algo semelhante e um litro e meio de chá mate em garrafa térmica, para me segurar acordada até umas 3h da manhã.
Lembro quando terminei a dissertação e pensei: ESTOU LIVRE!!! Minha rotina, agora, será trabalhar, voltar para casa e depois fazer o que eu quiser! Assistir a um filminho, talvez o noticiário, ler o livro que eu quiser!!! (Fazia tempo que eu não lia um livro de literatura...).
Mas depois de alguns dias, pensei melhor e decidi prestar doutorado. Faltava um dia para o fim das inscrições para o processo seletivo quando sentei na frente do computador, umas dez da noite, e redigi um projeto de pesquisa, que ficou pronto por volta de meia noite e meia. Sim, depois de escrever uma dissertação, um projeto de pesquisa pode ficar pronto em duas horas e pouco. O problema maior era enxergar a tela através de uma cortina de lágrimas. Eu estava em prantos, com raiva e me perguntando POR QUE eu fazia isso comigo mesma!
Quando se faz mestrado / doutorado, perde-se a espontaneidade da vida. Qualquer ação, como viajar, ver uma série inútil na TV, entrar no Face, escrever no blog, visitar minha família, sair com amigos, transar, arrumar uma gaveta... tudo me deixa com sentimento de culpa, porque eu não deveria estar lá. Eu deveria estar fazendo a p**** da pesquisa. Sim, pós-graduação não tem horário, não tem carga horária mínima e máxima, não tem férias, nem final de semana, nem feriado. Sou minha própria chefa e não me permito nada. Por isso, cada vez que engano a chefia para ter alguns instantes de prazer, lá vem a culpa.
Minha psicóloga disse que isso é coisa do ser humano: sempre inventamos uma desculpa para não estar onde estamos, não aproveitarmos plenamente cada momento. Disse que quando eu terminar o doutorado, vou me sentir culpada por assistir à TV quando deveria estar lavando aquela louça... Expliquei a ela que, quando estou lavando aquela louça, me sinto culpada por não estar fazendo o doutorado. É, tipo assim, uma vivência de segunda ordem dessa coisa que ela diz ser absolutamente humana.
Até quando? Bem, algo me diz que esse é meu caminho e que só me resta seguir em frente. Então, depois de perder uns 30 minutos desabafando no blog, vou atender ao chamado da chefia. Um CD do Nirvana no aparelho de som, um cobertor sobre as pernas porque está frio. Daqui a pouco talvez eu faça um chá mate. E vamos lá, que domingo é dia de muito trabalho!
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
compreender a marcha e ir tocando em frente
Sater, A. & Teixeira, R. (1990). Tocando em frente.
Um comentário:
Vc sabe que eu tenho a mesma sensação. Quando eu terminei o mestrado disse que não entraria no doutorado. Após um ano, estava eu lá de novo! O meu alívio vem do fato que estarei livre em no máximo 3 meses desse fardo. Isso mesmo, um fardo. Sinto como se estivesse carregando 4 toneladas em minhas costas, uma para cada ano de dedicação, e o alívio vem do fato, que mesmo que eu não conclua, estarei livre dele pq se encerra o prazo. Já fiz planos para este momento. Ficarei sem fazer absolutamente nada, não quero pensar em nada durante pelo menos 1 fim de semana, e aí, vou encher a cara com meus amigos, pq eu mereço!
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