Era uma sala de aula pequena, com uma lousa verde dessas antiquadas em que se escreve com giz. Mas não era uma sala de escola, e sim de uma clínica. Lá eram atendidos os adolescentes infratores que cumpriam medidas sócio-educativas e eu, como psicóloga, resolvi acompanhar uma das aulas para ver como era. Uma colega, assistente social, começou a reunião.
- Como este é nosso primeiro encontro, quero que vocês se apresentem. Digam o nome, a idade, uma coisa de que gostam e que língua vocês falam.
Que língua vocês falam? Isso é engraçado. Acho que vou dizer que falo esperanto, pensei.
Os adolescentes se apresentaram. Eram uns cinco ou oito, quem sabe dez. Chegou a minha vez de falar e fiquei meio perdida.
- Meu nome é Gabriela, eu gosto de... do que eu gosto mesmo?
Alguém apareceu na porta e disse à assistente social que havia um telefonema esperando por ela. Os adolescentes dispersaram e fiquei meio chateada de não poder me apresentar. Nem falei que a língua que falo é esperanto...
Do outro lado do quintal (sim, a sala era em um quintal), havia uma escada e vi descer por ela uma senhora muito gorda, com avental, levando nas mãos uma bandeja enorme, cheia de cachos de uva. Era grande mesmo a bandeja, devia ter, assim, um metro e meio de comprimento por meio de largura e as uvas eram tantas que formavam uma montanha. A senhora ia descendo, passinho por passinho, meio desengonçada e cheguei a me levantar pensando em oferecer-lhe ajuda. Tarde demais: a gorda balançou, bambeou, rebolou e pimba! Caiu no chão, derramando uvas para todos os lados. Algumas vieram parar bem nos meus pés e fiquei pensando que, ao pisá-las, sem querer eu fazia um princípio latente de vinho.
Belisquei uma uva, fui colocá-la na boca, mas meu pai, que misteriosamente surgiu na minha frente, segurou minha mão.
- Filha, essa uva acabou de cair no chão, é melhor lavá-la, de preferência colocar algum produto para desinfetar, como água sanitária.
Não comi a uva, mas fiquei pensando: que bobagem! Ele não sabe que não tenho medo de doença, que não ligo de comer frutas que caíram no chão.
Quando o despertador tocou, tive muita vontade de rir da cena da mulher gorda balançando e caindo na escada, desengonçada como uma foca. Mas levantei rapidinho, porque era hora de ir trabalhar naquele lugar onde são atendidos alguns adolescentes infratores que cumprem medidas sócio-educativas...
Um comentário:
Ah, um sonho bem curioso esse, Gabi. Que língua você fala...A pergunta é significativa e o sonho daria panos pra manga...rs
Gosto de ouvir relatos de sonhos, sempre gostei...Por que, não sei. Talvez porque falem da essência do sonhador e adoro essências.
Beijos
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