quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Potencial de vinho


Era uma sala de aula pequena, com uma lousa verde dessas antiquadas em que se escreve com giz. Mas não era uma sala de escola, e sim de uma clínica. Lá eram atendidos os adolescentes infratores que cumpriam medidas sócio-educativas e eu, como psicóloga, resolvi acompanhar uma das aulas para ver como era. Uma colega, assistente social, começou a reunião.

- Como este é nosso primeiro encontro, quero que vocês se apresentem. Digam o nome, a idade, uma coisa de que gostam e que língua vocês falam.

Que língua vocês falam? Isso é engraçado. Acho que vou dizer que falo esperanto, pensei.

Os adolescentes se apresentaram. Eram uns cinco ou oito, quem sabe dez. Chegou a minha vez de falar e fiquei meio perdida.

- Meu nome é Gabriela, eu gosto de... do que eu gosto mesmo?

Alguém apareceu na porta e disse à assistente social que havia um telefonema esperando por ela. Os adolescentes dispersaram e fiquei meio chateada de não poder me apresentar. Nem falei que a língua que falo é esperanto...

Do outro lado do quintal (sim, a sala era em um quintal), havia uma escada e vi descer por ela uma senhora muito gorda, com avental, levando nas mãos uma bandeja enorme, cheia de cachos de uva. Era grande mesmo a bandeja, devia ter, assim, um metro e meio de comprimento por meio de largura e as uvas eram tantas que formavam uma montanha. A senhora ia descendo, passinho por passinho, meio desengonçada e cheguei a me levantar pensando em oferecer-lhe ajuda. Tarde demais: a gorda balançou, bambeou, rebolou e pimba! Caiu no chão, derramando uvas para todos os lados. Algumas vieram parar bem nos meus pés e fiquei pensando que, ao pisá-las, sem querer eu fazia um princípio latente de vinho.

Belisquei uma uva, fui colocá-la na boca, mas meu pai, que misteriosamente surgiu na minha frente, segurou minha mão.

- Filha, essa uva acabou de cair no chão, é melhor lavá-la, de preferência colocar algum produto para desinfetar, como água sanitária.

Não comi a uva, mas fiquei pensando: que bobagem! Ele não sabe que não tenho medo de doença, que não ligo de comer frutas que caíram no chão.

Quando o despertador tocou, tive muita vontade de rir da cena da mulher gorda balançando e caindo na escada, desengonçada como uma foca. Mas levantei rapidinho, porque era hora de ir trabalhar naquele lugar onde são atendidos alguns adolescentes infratores que cumprem medidas sócio-educativas...

Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...

Ah, um sonho bem curioso esse, Gabi. Que língua você fala...A pergunta é significativa e o sonho daria panos pra manga...rs
Gosto de ouvir relatos de sonhos, sempre gostei...Por que, não sei. Talvez porque falem da essência do sonhador e adoro essências.

Beijos