sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um piolho na cabeça de um puma: Sacsayhuaman

Por 25 soles, peguei um microônibus na Plaza de Armas para fazer o city tour, com direito a guia explicando cada lugar por onde passamos. O passeio incluía diversos pontos turísticos e, como cada um deles tem curiosidades muito específicas, vou contar em posts separados. Falarei agora sobre Sacsayhuaman.

Trata-se de uma fortaleza construída pelos incas, com rochas gigantescas trazidas de montanhas distantes. Dizem que quem começou a construção foi o inca Pachacuti, por volta de 1430 dC. O trabalho durou em torno de 50 anos.

Uma curiosidade sobre Cuzco é que a cidade foi planejada para ter o formato de um puma, símbolo do poder temporal. Os incas acreditavam na existência de três mundos, cada qual simbolizado por um animal: o mundo subterrâneo (dos mortos) era representado por uma serpente, o terreno (dos homens) por um puma e o céu (dos deuses) por um condor. Claro que agora fica mais difícil de visualizar o formato da cidade, que já cresceu e se espalhou, mas dizem que o projeto da cidade era mais ou menos assim:

O projeto original de Cuzco, em formato de puma

Nesse contexto, Sacsayhuaman ocupa a posição indicada com uma letra E no mapa: é o alto da cabeça do puma, ou seja, o centro de controle, o comando, o que tem a ver com a função política e militar que tinha a fortaleza.

A cabeça de um puma, assim como a dos gatos, é ligeiramente enrugada e até isso os incas tentaram reproduzir: Sacsayhuaman tem três muralhas (cada uma representando um dos três mundos) em ziguezague, que vistas de cima, lembram essas rugas felinas.

Infelizmente, o que vemos atualmente é cerca de 20% do que já existiu um dia. Os espanhóis destruíram a maior parte dessa obra arquitetônica, usando as pedras para construir casas e catedrais. A Igreja Matriz, localizada na Plaza de Armas, é uma das que foram construídas com pedras retiradas de Sacsayhuaman.

Diante da imponência do local que, um dia, já foi ainda maior, posso dizer que eu era, ali, não mais que um piolho na cabeça do puma.

As três muralhas em ziguezague

Subi diversos degraus, meio tonta por causa do soroche, sentindo os pés pesados como se sobre eles estivessem aquelas pedras que os incas usaram para a construção. Mas valeu a pena, porque lá no alto das muralhas há um mirante, do qual se pode enxergar toda a cidade (e descobrir que, de fato, o formato atual passa bem longe de ser um puma). Foi interessante ver de cima os locais por onde eu já havia passado, como a Plaza de Armas, que de repente parecia minúscula.

Plaza de Armas, vista do mirante de Sacsayhuaman

Cada pedra usada na construção tem de ser polida para que se encaixe nas outras. Os incas fizeram isso com uma precisão intrigante, pois nos encaixes entre as pedras não se consegue passar, nem mesmo, a lâmina de uma faca. Algumas pedras, por isso, assumem formatos não convencionais, como a pedra de onze ângulos. Pela foto a seguir vocês podem estimar o tamanho da pedra, considerando que eu tenho 149 cm de altura. Não consigo sequer imaginar o peso que ela tem, muito menos como foi que um grupo de incas trouxe uma rocha tão grande desde o alto de uma montanha íngreme.


Pedra de onze ângulos

Outra curiosidade a respeito de Sacsayhuaman é que nesse local, em todos os solstícios de inverno (dia 24 de junho), celebra-se o Inti Raymi, festival relacionado com o culto do deus sol (Inti). Nessas ocasiões, as pessoas sobem até a fortaleza e dançam as danças típicas, realizando toda a ritualística que permaneceu na tradição.

Conforme eu ia aprendendo sobre as histórias do local, os costumes, as tradições, algo em mim começava a se encaixar, quase tão perfeitamente quanto as rochas polidas pelos incas...

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