sábado, 21 de julho de 2012

Catedral de Cusco

Logo após o café da manhã, fizemos um passeio pela Catedral de Cusco. O ingresso custa 25 soles por pessoa (cobram metade se você apresentar comprovante de que é estudante. Aceitaram minha carteirinha da USP). Os guias de turismo são opcionais e cobram mais uns 20 a 30 soles. Recomendo fortemente a visita guiada, pois se você for sozinho, perderá muitos detalhes que tornam o passeio ainda mais agradável.

Fachada da Catedral de Cusco

Para entender a importância da catedral, é preciso conhecer um pouquinho da cultura inca e da história do Peru. Os incas tinham uma religião animista, considerando que os elementos da natureza eram deuses. Cultuavam a terra, a água, o arco-íris, o trovão, as estrelas, o sol, a lua... E de repente, os espanhois invadiram e dominaram o império, impondo a cultura católica, que eles acreditavam ser a mais certa.

Como fazer para que aquele povo, de repente, passasse a acreditar que a imagem de um homem morto e pregado numa cruz era seu novo e único Deus? Se eu fosse eles, certamente não acreditaria. E acho que eles, de fato, demoraram para assimilar a ideia. Os espanhois foram se virando como podiam: demoliram os templos de pedra e usaram as pedras para construir igrejas e monastérios em seu lugar. Os altares são cobertos de folhas de ouro e prata, que certamente vieram de objetos incas derretidos. Pegaram os incas que consideraram mais espertinhos e ensinaram a pintar em estilo europeu. Mandavam representar imagens católicas, como forma de ensiná-los a doutrina que, na visão espanhola, era a correta. E assim surgiu a escola cusqueña, estilo artístico que só se vê no Peru.

Mas os incas não esqueceram seus antigos deuses e, à semelhança das religiões afrobrasileiras, fizeram um sincretismo fantástico. Os santos e santas católicos se fundiram com os deuses e deusas incas. Assim, até hoje Nossa Senhora é, para eles, a Pachamama, deusa da terra e da fertilidade, a mais adorada da cultura inca. E por isso mesmo, ela está mais em evidência na Catedral de Cusco do que o próprio Jesus.

Disse o guia que nos acompanhou que é comum que, depois da missa, os católicos se ajoelhem em frente à imagem de Nossa Senhora para orar em silêncio. Enquanto isso, os peruanos mais ligados à cultura inca se sentam e conversam com a mesma imagem, que para eles é a da Pachamama. Conversam em voz alta, como se fosse uma parente ou amiga, ou quem sabe, a própria mãe.

Certamente o guia, de descendência inca, lhe dirá barbaridades sobre os espanhois, sobre como eles destruíram os templos, ídolos e a cultura inca, sobre como mataram homens inocentes. E terá toda a razão.

Fico imaginando o lado dos colonizadores: saíram da Espanha, cruzaram o Oceano Atlântico em caravelas, certamente se imaginavam herois. Vieram trazer o progresso para a América, para as culturas primitivas e atrasadas. Trouxeram a salvação para os pecadores que nunca haviam conhecido Jesus Cristo. Devem ter ido para o céu, pois se doaram para a Pátria e para a Igreja.

Afinal, quantos de nós não impomos nossas opiniões, crenças e costumes aos outros? Ainda mais quando são de outra cultura, aparentemente atrasada? Que dizer de Belomonte, trazendo um suposto progresso ao interior do Pará? Que dizer de nós, quando tentamos convencer nosso amigo ou parente de que ser evangélico / católico / espírita / eubiota / ateu é o caminho certo para a verdade?

Não se pode tirar fotos do interior da Catedral, e pouco se consegue obter pelo Google Images. O negócio é ir lá para ver, sentir e refletir.

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