quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cachoeira no Roncador


Vale dos Sonhos, 11 de outubro de 2010

Cheguei em Barra do Garças sem saber o que encontraria por lá, sem saber nem mesmo onde eu estava. E na primeira noite, a moça que vendia seus livros de poesias abriu-me as portas, em pleno boteco, em meio à cerveja. Encontrar o Maurinho é um acontecimento desses que só a Causalidade proporciona. Sinto-me em casa, acolhida, como se já conhecesse essas pessoas há muito tempo.


Visão parcial da cachoeira na Serra do Roncador


Seu José e Dona Tereza são fantásticos. Sempre imaginei como vive uma pessoa que mora numa dessas casinhas de beira de estrada, longe de tudo, e agora vejo o que é. Tudo simples demais e, ao mesmo tempo, sei que eu jamais daria conta de viver assim. Seu José e Dona Tereza sempre têm um sorriso sincero nos olhos e nos lábios. São lindos pela alegria que transpiram, que compartilham.

A cachoeira cai do alto da serra, de uma altura de pelo menos 80 metros. A água é de um gelado revigorante. O sol batendo em vários ângulos sobre a serra revela novos desenhos e matizes a cada instante. Uma visão que nunca é a mesma... Deitei numa rocha e fechei os olhos, sentia o sol ardendo na pele. Percebi que o Roncador tem uma música, uma sinfonia lindíssima. Pássaros de várias espécies cantavam orquestrados, como se obedecessem a um regente invisível. Havia o som das águas e dos ventos acrescentando dois outros instrumentos à composição. Sinfonia que se renova a cada instante, nunca se repete. Não é possível gravar, a não ser na memória.


 Foto espontânea: eu observando a cachoeira


A comida de Dona Tereza tem sabor de carinho. Tudo feito na hora, muita coisa produzida lá mesmo, galinhas passando pelo meio da cozinha. Patos, vacas, cachorros, gatos, porcos, tudo junto em harmonia, num equilíbrio dinâmico, que torna o acontecimento quase onírico.

Seu José e Dona Tereza parecem simplesmente saber de que as pessoas precisam e oferecem de bom grado. Como a rede pendurada num pé de manga, que Dona Tereza me ofereceu logo depois do almoço. Deitei e fiquei vendo o paredão de rocha, cochilei. Antes de embarcar no sono, pensei: estou aos pés de um Templo vivo, natural. Acordei ouvindo um porquinho fuçar o chão procurando manga. Filhotinho, o menor porco que já vi. Abri os olhos devagar e vi uma cidade no topo da serra. Casinhas simples, feitas de pedra. "Devo estar sonhando". Fechei os olhos e, quando abri de novo, era só a serra, nada de cidade.




O cachorro de Seu José e Dona Tereza, que nos acompanhou na trilha, também curtindo a cachoeira


O pôr do sol, que vi ao longo da estrada, é completamente vermelho. Parece que toda a terra vai pegar fogo. Aliás, toda aquela região cheira a fogo. É tudo Ara... Aragarças, Araguaia, arara, Ararat...

Também ao longo da estrada, tivemos que reduzir a velocidade do carro porque uma ema corria na nossa frente. Surreal!

Estou de volta à fazenda de Maurinho, está anoitecendo e não há luz por aqui. As estrelas aos poucos vão cobrindo todo o céu. A lua está grande, perto da serra.

Nada disso estava nos meus planos. Eu não imaginava vir para cá. Sinto que há um caminho que imagino e outro que vai além de mim, que me chama e me consome. A viagem que programei é uma rota que não tem um fim certo. Em cada pedacinho percorrido já encontro o Fim. Há respostas em todos os lugares. Está tudo saindo como previsto, justamente porque nada estava planejado.

Um comentário:

Rita disse...

AêêÊ... filhota! Gostei da parte físico-química: equilíbri dinâmico!
:)
Mas é isso aí, esse lugar é mágico e só quem já andou um pouquinho por aí e tem as "antenas boas" pode perceber isso tão bem.
Adorei as fotos, estão lindas. Aproveita a magia desse lugar: só vai até aí quem realmente merece...
Beijão