domingo, 24 de outubro de 2010

Cuyaba

Este post está atrasado, deveria ter vindo antes de San Matias. Passei pela cidade na rota entre Canarana e Cáceres, ainda com o objetivo de entrar na Bolívia.

Sim, escrevo Cuyaba em vez de Cuiabá, porque era assim que se esccrevia o nome da cidade na época de seu batismo. O Y era usado em todas as palavras de origem indígena.

Cheguei à cidade no dia 25 de outubro, vindo de Canarana e confesso que, no caminho até a rodoviária, pensei: sem graça... cidade normal, grande, sem atrativos. Mas percebi que fui injusta. Quando saí da rodoviária rumo ao camelódromo, para procurar o cabo de minha câmera, vi muitas placas indicando pontos turísticos. Encontrei o cabo, olhei no relógio e vi que já tinha perdido o ônibus das 11h para Cáceres. O próximo sairia 14:45. Sinal de que eu deveria conhecer Cuyaba, ainda que por algumas horas.

Museu Histórico de Mato Grosso

Fui ao centro, cheguei na Praça da República. É bonitinha, cercada pelos prédios antigos, como o Palácio da Instrucção e o Museu Histórico de Mato Grosso. Não consigo ver museu sem entrar, então lá fui eu, aprender um pouquinho sobre a história do estado onde eu estava. Pode ser que, em algum momento, eu consiga contar com mais detalhes o que aprendi, mas por enquanto, posso dizer que tudo tem a ver com bandeirantes, projetos de ocupação do oeste do país, guerra do Paraguai, intensos conflitos entre os interesses dos colonizadores, mineradores, Estado, indígenas, fazendeiros... Ou seja, o mesmo cenário que se estende até hoje naquela região.

Palácio da Instrucção

A Praça da República tem uma estátua da Justiça muito diferente da habitual: uma mulher vendada e segurando uma balança, como sempre, mas tem sobre os joelhos um Cristo em estilo La Pietà. Além disso, ela é um tanto sensual, com pernas grossas e sapato de salto alto. Aos seus pés, pessoas estão prostradas no chão e um dos pés esmaga uma pobre figura aparentemente desmaiada. Concluí que a justiça no Mato Grosso é cega, mas também piedosa, sensual e esmagadora.

Estátua da Justiça, na Praça da República

O centro histórico também tem casas antigas ao longo de calçadões, preservadas pelo patrimônio cultural, hoje transformadas em comércio. Aproveitei para almoçar por lá, tomei um café e já estava voltando para a rodoviária quando vi uma igreja que me pareceu interessante. Ficava num lugar elevado e parecia ter estilo gótico. Resolvi andar até ela e valeu a pena subir a ladeira. Descobri o nome: Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho. Fica ao lado de um seminário e atualmente tem também um museu de arte sacra, que infelizmente estava fechado por ser segunda-feira.

Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho

Entrar na igreja foi uma surpresa. O cenário é meio diferente do que costumo ver em igrejas católicas. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o som de pássaros. Canto de pássaros dentro da igreja? Tentei descobrir se eram "de verdade" ou uma gravação (mas quem é que põe gravação de som de pássaros dentro de igreja?). Depois de algum tempo procurando, vi mesmo passarinhos voando pelo teto, acima do forro. Não sei se moram lá, se foi só naquele dia, se foi alucinação minha, mas eram muitos, em revoada! E no altar, havia um tapete grosso de pelos e algumas pessoas sentadas ou ajoelhadas sobre ele, sem sapatos, orando. Lembrou-me algo oriental. Uma escada na nave da igreja levava a uma parte superior, de onde pude ver toda a nave e o altar do alto. Bonito e intrigante! Ainda me pergunto sobre o simbolismo da igreja e a interessante energia que há por lá, meio acolhedora, meio mágica, meio oriental, meio popular.

Saí de lá para a rodoviária pensando que precisaria voltar a Cuyaba para continuar conhecendo a cidade, que parece oferecer muitas atrações turísticas (e eu não imaginava...). Mal sabia eu que estaria de volta apenas dois dias depois...

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