quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cusco

Não tenho muito tempo para escrever agora, mas quero deixar relatadas minhas primeiras impressões sobre Cusco antes de ir a Machu Pichu (partindo em 2h).

Vista da janela do avião, quase chegando em Cusco

Partindo de Rio Branco de avião (o preço da passagem e o tempo economizado compensam muito em relação ao ônibus), fomos subindo, subindo e eu já estava achando que ia parar na lua, porque nunca estive num voo que subiu tão alto rs... Como o céu estava nublado no Acre, fiquei lendo o guia turístico em vez de olhar pela janelinha. Mas dali algum tempo dei uma espiada e fui abrindo a boca, assombrada. Foi a primeira vez que vi neve, ainda que à distância, naqueles picos que ficam perenemente com a cabecinha branca.

Descer em Cusco é emocionante, o piloto tem que fazer muitas manobras radicais para poder desviar dos picos de montanha. E pousamos 3.000 metros acima do nível do mar. Fiquei com um pouco de medo do "soroche", o mal da altitude. Mas não senti nada no começo. Só depois de umas duas horas é que me senti leve, quase flutuando, meio tontinha, achando tudo muito engraçado como se estivesse levemente embriagada. A única desvantagem era a taquicardia cada vez que eu subia escada ou tentava andar um pouco mais rápido. El soroche é um bom remédio para o mal paulistano, esse que faz as pessoas correrem em vez de andar. Mas se no primeiro dia me senti leve, no segundo foi o contrário: fiquei pesada, como se tivesse um tijolo em cima de cada pé. Fiz tudo muito lentamente, porque não tinha outro jeito.

El soroche não impediu que eu passeasse bastante pela cidade. Conheci a Catedral, Igreja de San Blas, Companhia de Jesus. Fiz um city tour e conheci ruínas incas incríveis. Cada local que eu conheci merece um post a parte, então eu conto depois, com mais calma. Agora só quero relatar as impressões gerais.

Tudo aqui é uma mistura de cultura inca com cultura espanhola. E não é uma mistura heterogênea, dessas que a gente consegue enxergar as duas fases, como quando se tenta juntar óleo com água. As duas partes realmente andam juntas e pode-se vê-las em cada esquina, em cada monumento, em cada ruína, em cada cusqueño.

Fachada da Catedral de Cusco

Assim como no Brasil houve um sincretismo entre a religião católica e a dos negros, aqui se vê o sincretismo católico-inca. Os deuses incas são representados por figuras católicas nas igrejas. A mais evidente é a Pachamama, principal deusa inca, pois representava a fertilidade, a terra, o poder de geração feminino, a energia criadora. Nas igrejas, ela é representada como a Virgem Maria, que assume um papel mais importante que Jesus Cristo ou Deus. Os altares para Virgem Maria - Pachamama são mais evidentes, mais suntuosos, normalmente adornados com prata (para os incas, prata = feminino, ouro = masculino).

As pinturas que adornam as igrejas representam os motivos católicos mais clássicos, mas no meio da crucificação tem lá uma lhama, na Santa Ceia foi servido um cuy (um roedor que é feito geralmente assado, comida típica daqui). As igrejas, conventos e monastérios foram erguidos sobre as ruínas dos templos incas, que foram parcialmente destruídos pelos espanhóis. As pedras dos templos incas e a mão de obra desse povo foram usadas para construir os templos católicos. Os altares revestidos de folhas de ouro e prata também são uma reutilização do material que constituía os ídolos e objetos incas.

Mate de coca, bom pra passar el soroche

As igrejas daqui são muito vivas. As "esculturas" representando Maria, José, Jesus e um batalhão de santos são flexíveis, pode-se mover os braços, pernas e cabeça, como se fossem bonecos. As costureiras da cidade fazem diversas roupas lindamente bordadas, com as quais vestem as imagens, trocando as vestes de tempos em tempos. Os cabelos são naturais e doados por pessoas da cidade, também trocados ao longo dos anos. Visitei muitas igrejas na França, Itália e Alemanha, mas acho que essas daqui não deixam nada a desejar, pelo contrário.

No mais, o albergue em que estou é limpo, confortável e tem pessoas legais. Estou fazendo aulas particulares de salsa. Acho tudo aqui muito caro, estou gastando bem mais do que eu previa (ainda bem que achei um caixa eletrônico para sacar soles diretamente da minha conta do Banco do Brasil). E vou para Machu Pichu daqui a pouco! :-)
Até mais...

4 comentários:

Rita disse...

Legal, filhote!
Com ou sem el soroche, o importante é que está valendo a pena, né? Gostou do chazinho? Não pode trazer pro Brasil...hehehe!
Vc sabe que adoro visitar igrejas, pois concordo com o VÔ Gordo, qdo dizia que elas revelam muito da cultura de um lugar. Achei be interessante sua descrição!
Boa Viagem a Machu Pichu.
Beijãozão e bons negócios!

RodrigoOMartins disse...

Gabi, você sabe se esse vôo Rio-Branco Cusco ainda existe? Qual é/era a companhia aérea?
Estou programando um roteiro parecido, mas acredito que terei que ir de ônibus a Puerto Maldonado...
Parabéns pelo blog!

Gabi disse...

Oi, Rodrigo! Legal que vc também está indo!

A companhia é a Star Peru. Acredito que ainda existe, sim!

Quando viajei, o voo só existia às 2as e 6as feiras. A empresa é nova, não tem como comprar passagem pela internet (ou, pelo menos, não tinha). Precisei ir ao guichê e pagar na hora, à vista.

Creio que vale a pena, porque indo por Puerto Maldonado, são uns 2 dias de viagem, e indo pela Star Peru, só 1 hora. Ganha-se tempo para conhecer outras coisas...

Estou à disposição caso precise de outras dicas.

Abraços!

RodrigoOMartins disse...

Obrigado pela dica!
Pena que, desde perto do Carnaval, a Star Peru suspendeu as vendas de viagens a partir de Rio Branco. Parece que o aeroporto não está com a estrutura necessária ao alfandegamento dos passageiros (eeeeeeeeeeh, Brasil!!!!) e estão fazendo os ajustes necessários para o pleno funcionamento.
De toda forma, vou acompanhar e torcer para que, até setembro, a rota volte a funcionar.
Obrigado novamente!