sábado, 16 de outubro de 2010

Trilha pela Serra do Roncador


Vale dos Sonhos, 12 de outubro de 2010

Andar pelo Roncador foi uma atividade cansativa (mais do que pensei), mas também gratificante. Fizemos a trilha que vai da fazenda do Maurinho até as Torres Gêmeas (não coonfundir com WTC, eu já disse...). O caminho é variado, alterna entre regiões íngremes e outras nem tanto, pontos com muito sol e outros de sombra. Passamos por fendas nas rochas, ladeadas por grandes paredões de pedra. Tomei quatro picadas de marimbondo. Mas tudo era tão mágico, que até os pequenos imprevistos faziam parte do processo. O que valia era estar lá, sentir o lugar, ouvi-lo, tocá-lo.

Passando por uma das fendas entre os paredões de pedra


Vários trechos da trilha estão completamente queimados. O fogo alastrou-se pela serra e fez um estrago considerável. Toda a trilha cheira a fogo: nos vestígios de queimada, no sol torrando nossa pele, no tom encarnado das rochas, nas picadas de marimbondo ardendo em fisgadas, nas penas das araras vermelhas, na fumaça que subia do vale indicando novos focos de queimada. Passei muita sede até encontrar uma nascente onde pude encher minha garrafinha novamente.

Em vários paredões de rocha há marcas esculpidas na pedra, em forma de mãos, patas, animais. Sítios arqueológicos que, até onde sei, pesquisadores ainda não se ocuparam de estudar.

Quando parávamos para descansar e ficávamos em silêncio, vinha a paz. A música da montanha, novamente. A sensação de unidade com tudo o que estava ali. Lá no alto, numa plataforma de pedra, avistamos as torres e todo o vale lá embaixo. Araras sobrevoavam o vale, sempre aos pares. Um calango tentava se aproximar de mim o tempo todo. Conversamos, rimos, ficamos em silêncio em vários momentos e tudo era serenidade.

Cheguei nas Torres Gêmeas


Na volta nadamos na represa, foi um alívio equilibrar tanto fogo com alguma água no corpo, ainda que fosse água quente de tanto sol armazenado ao longo do dia. E agora estou na rodoviária de Vale dos Sonhos, observando galinhas e arara (uma arara vermelha pousada no telhado, parece que é amiga do povo daqui), aguardando o ônibus que me levará a Nova Xavantina, onde se inicia a próxima etapa da viagem.

Vou com a certeza de que volto em breve, há ainda muita coisa para se conhecer, sentir e viver por aqui. Sinto que neste trajeto, estou desbravando, abrindo caminhos, preparando as trilhas que percorrerei muitas vezes ainda, nessa nova fase de minha vida que se abriu tão de repente. Aqui, tão longe de casa (seja lá o que chamo de casa neste momento), sinto-me de coração sinceramente aberto ao que vier. Sem medo de me jogar no mundo, porque sei que ele me suporta e me acolhe, seja lá como for.

Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...

Estou "viajando" através de seus relatos, Gabi... Que bom que está curtindo!
Beijos