Esse é o post mais difícil até agora. Canarana não tem nada em termos de pontos turísticos, mas foi tudo tão intenso que estou aqui pensando: como relatar o indizível?
Desde que cheguei no Roncador, tenho ouvido várias perguntas, repetidamente:
- De onde você é?
- Está viajando sozinha?!
- Mas quantos anos você tem?! É di menor?
- Seus pais SABEM que você está aqui?
- Você brigou com sua família? Fugiu de casa?
Essas conversas costumam terminar com um suspiro: "Queria ter essa sua coragem...".
Outra pergunta que ouvi muito:
- Mas por que decidiu vir AQUI, em Barra do Garças / Nova Xavantina / Canarana?
Essa eu não sabia responder, não... Principalmente Canarana. Tinha alguma coisa na cidade que me atraía, mesmo sem eu saber nada sobre ela. Alguma coisa no nome, eu acho. E foi por isso que resolvi ir, mesmo as pessoas me dizendo que lá não tem nada, que era melhor ir a Água Boa ou Campinápolis.
Desci do ônibus às 17:30 e vi o pôr do sol mais lindo da minha vida. Na hora pensei: "É isso... eu vim pra ver este Sol". Deixei as malas no hotel Ipê, atrás da rodoviária, e saí andando na direção do poente. Duas quadras depois, as ruas eram de terra vermelha, com casebres de madeira, jaqueiras, cajueiros, mangueiras, pássaros, galinhas, cachorros e gatos. Crianças brincando, encardidas como toda criança saudável deve ser. E o Sol descendo à terra, vermelho-púrpura-alaranjadamente, incendiando o horizonte. Parei junto a uma cerca, respirei. Só quando o céu já estava azul marinho, com as primeiras estrelas aparecendo, é que resolvi voltar.
Foi então que resolvi acionar um dos meus contatos: um dos rapazes que conheci em Barra do Garças. Ele na mesma hora foi me encontrar, marcamos de tomar cerveja num bar lá da cidade. Outros rapazes foram conosco, todos de Canarana. Conversamos e bebemos até de madrugada, cheguei no hotel meio tonta já... Entendendo um pouco do pensamento de quem mora lá.
No dia seguinte, depois de beber litros de água, saí de novo sozinha, vendo a cidade pela manhã. Toda planejada, perfeitamente quadrada, quarteirões de 100m por 100m. Avenidas tão largas quanto aquelas da USP, mas quase sem carro nenhum. É bonita, mas seus maiores encantos se revelam, de fato, na hora da Ave Maria.
Satisfeita com minhas primeiras impressões, senti que deveria acionar um outro contato: os amigos do amigo, sabe? E foi a partir deles que descobri outras respostas para a pergunta: o que você veio fazer aqui, em Canarana? Em uma tarde de conversas as coisas passaram a fazer sentido, ligaram-se umas às outras. Até aqui eu tinha considerado minha viagem como duas etapas separadas: 1- conhecer o Roncador; 2- conhecer Bolívia e Peru. De repente, em Canarana, descobri que o caminho é um só, que as coisas se ligam, o trajeto todo é único e precisava, mesmo, ser feito dessa forma.
Eu precisaria de muitas palavras para relatar os acontecimentos desse final de semana, então deixa pra lá. Melhor fazer isso tomando um café, olhando o Sol ou a chuva bater na janela. Foram muitas sincronicidades em dois dias: muitos encontros. Encontrar o que está fora nada mais é do que reflexo de encontrar o que está dentro e, então, sigo meu rumo me sentindo mais inteira.
Foi difícil entrar no ônibus para sair de Canarana, minha vontade era de ficar lá, reconstruir tudo lá e seguir a vida. Enfim, hora de tocar o barco, ainda tem muito chão pra percorrer. Estou em Cuiabá, esperando o comércio abrir. Daqui a pouco vou colocar 1/4 da bagagem no correio, rumo a Campinas, para viajar mais leve. Tentar comprar o cabo da câmera, para quem sabe poder mostrar a vocês algumas fotos do bonito pôr do Sol que pude presenciar. Por fim, seguirei para Cáceres, de onde, mais tarde, irei à Bolívia.
8 comentários:
Muitas vezes o melhor motivo pra se visitar um lutar é não ter motivo. E, em outras, os motivos se perdem quando se chega para dar lugar a novos - e melhores - motivos. Continue tendo uma viagem maravilhosa ;)
Gabi estou lendo sua história e achei muito interessante. Ainda estou no primeiro post em SP.mais vou ler tudo.
Gostaria de publicar alguma das sua "aventuras" em meu BLOG dO KASSU www.aguaboanews.blogspot.com temos também um Site de Notícias www.aguaboanews.com.br
Moramos em Água Boa pena que já está em Cuiabá eu ia te convidar para juntamente com minha família conhecer alguns pontos turísticos de nossa região. Como as Aldeias Xavante, Grutas, repupeação Ambiental que estamos fazendo em nosso sítio. Ver no BLOG DO KASSU www.aguaboanews.blogspot.com palavra chave (Pequi) no sistema Agro floresta. Gabi li todo o relato da viagem. Poderia mandar um texto jornalístico para o site www.aguaboanews.com.br.
Sinto muito não ter lhe conhecido.
Ass. Clodoeste Kassu - esposa Idelgmar; filhos: Michel, Max e Meider - Michel e Max gestores Ambiental
Tão bom ir assim, esperando os sinais que vão surgindo no caminho e descobrindo por que foi enquanto se encontra como inesperado...E eu aqui babo de inveja (branca!) dessa tua tão boa viagem.
Beijos
Penso que você seja você! Não é vc a moça a quem dei carona saindo do Hotel IPE em Canarana, indo até a SBE com a Ariane?
Desejo-lhe ótima viagem e que atinja seu objetivo!
O Ulisses, meu filho, fez a apresentação sobre Machu Picchu aqui em Nova Xavantina no dia seguinte ao nosso encontro. Durante a apresentação, lembramos todos da curiosidade (inclusive o Luis Nunes, que te conhece) do fato de vc estar indo justamente para lá e termos nos encontrado em... Canarana...
Felicidade!
Sim, Alexandre, sou eu mesma!
Estou indo a Cuzco amanhã e de lá a Machu-Pichu. Legal vocês terem lembrado durante a apresentação! E foi uma pena eu não ter encontrado o Luis Nunes... Mas pretendo voltar em breve para Nova Xavantina.
Obrigada pela carona em Canarana! Abraços!
Que bom que você gostou de Canarana, volte sempre..
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